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Mesmo acasalando, bichos-pau no Japão fazem bebês só com o DNA da fêmea

O inseto faz partenogênese – a reprodução da fêmea por clonagem, sem um macho. O mistério: como os machos (apesar de raros) continuam existindo e copulando?

Por Caio César Pereira
18 ago 2023, 10h27

Mesmo que algumas espécies como o golfinhos, bonobos, e o próprio ser humano façam sexo por prazer, no geral, indivíduos machos e fêmeas de qualquer espécie acasalam para se reproduzir. Agora, uma equipe de cientistas no Japão descobriu mais uma exceção curiosa à regra: uma espécie de bicho-pau em que o macho até tenta, mas não consegue dar seu quinhão de contribuição genética aos bebês.

O pesquisador Tomonari Nozaki e seus colegas do Instituto Nacional de Biologia Básica descobriram quem, apesar da fêmea do bicho-pau japonês Ramulus mikado acasalar com machos, nenhum dos ovos têm o DNA deles. As fêmeas produzem descendentes geneticamente iguais a elas, o que indica que seus ovos não precisam ser fertilizados para se desenvolver. Em outras palavras: elas se clonam.

O fenômeno de reprodução assexuada não é algo exclusivo do nosso amigo inseto. A partenogênese como é conhecida, vem sendo encontrada em cada vez mais espécies ao longo dos anos. As fêmeas de peixes como o Tubarão-martelo e de répteis como o Dragão-de-komodo já foram documentadas se reproduzindo sem a fecundação dos machos. O nome vem do Grego, onde parthénos é virgem e génesis significa criação. 

Para ter certeza, os pesquisadores cruzaram alguns exemplares machos e fêmeas do inseto, e observaram que eles conseguiam acasalar normalmente. A resposta, então, parecia ser uma só: os machos são estéreis. O que explica sua raridade na população, dominada por fêmeas que ficam fazendo cópias de fêmeas. 

Ao analisar os testículos dos machos, eles notaram que os espermatozoides eram bastante defeituosos, e incapazes de fecundar as fêmeas. O mistério é entender por que uma sequência de mutações tão deletéria, que impede um ser vivo macho de fazer sua principal tarefa sob o crivo da seleção natural, teria se fixado na população. 

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Para os pesquisadores, essa é uma grande oportunidade para se estudar a evolução de uma característica aparentemente desvantajosa. E pesquisar a cópula entre espécies partenogênicas pode, inclusive, ter finalidades práticas como desenvolver ferramentas para o controle de pragas agrícolas que envolvam colocar alguns indivíduos estéreis no meio das populações.

 

O futuro é delas

Eis o próximo mistério a ser desvendado pelos pesquisadores: se os machos estão estéreis e as fêmeas clonam a si mesmas, de onde surgem novos indivíduos machos? Em outras espécies partenogênicas, só há fêmeas, mesmo, e nenhuma cópula rola gratuitamente. Em uma espécie em que a necessidade do macho para a reprodução é nula, a população masculina tende a ficar cada vez menor, até desaparecer.

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Nesse bicho-pau, a degradação do genoma do sexo masculino já começou (percebe-se pela inviabilidade do esperma), mas existe a possibilidade de que os machos ainda sejam necessários para alguma etapa da reprodução que não seja a fecundação em si. E que, por isso, haja algum mecanismo da genética de populações que entrou em ação e é capaz de mantê-los, por ora. Já diz o quote de Jurassic Park: “Life finds a way”  “A vida dá um jeito”. 

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