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Matemática ucraniana é segunda mulher da história a receber a Medalha Fields

A medalha, considerada o Prêmio Nobel de matemática, só é entregue a cada quatro anos. Conheça as pesquisas laureadas em 2022.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 7 jul 2022, 17h35 - Publicado em 5 jul 2022, 16h42

Não existe prêmio Nobel de matemática, mas a Medalha Fields é o que mais se aproxima disso. Trata-se da maior honraria científica que um matemático pode receber antes dos 40 anos – idade limite do prêmio. Há quem diga que receber a Medalha Fields é até mais difícil do que ser laureado com o Nobel, já que a medalha só é entregue a cada quatro anos, enquanto o Nobel é anual.

A última cerimônia havia ocorrido em 2018 no Rio de Janeiro. Este ano, ela aconteceu em Helsinque, capital da Finlândia. O objetivo é premiar pesquisadores com feitos extraordinários e que se destacaram na carreira antes de completarem 40 anos de idade. A medalha pode ser entregue a até quatro matemáticos por vez. Além da honraria, cada laureado recebe 15 mil dólares canadenses (o equivalente a 62 mil reais).

Os vencedores de 2022 foram os matemáticos James Maynard, 35, da Universidade de Oxford (Reino Unido); Maryna Viazovska, 37, da Escola Politécnica Federal de Lausana (Suíça); Hugo Duminil-Copin, 36, da Universidade de Geneva (Suíça); e June Huh, 39, da Universidade de Princeton (Estados Unidos).

Com um detalhe: Viazovska é a segunda mulher da história a receber a Medalha Fields. Apenas 64 matemáticos receberam o prêmio desde sua criação, em 1936. A primeira laureada foi a matemática Maryam Mirzakhani, que ganhou a medalha em 2014 (o mesmo ano do primeiro brasileiro, Artur Ávila). Além de ser a primeira mulher, Mirzakhani também foi a primeira pessoa nascida no Irã a receber o prêmio.

Os vencedores da Medalha Fields, assim como os do Prêmio Nobel, geralmente fizeram diversas contribuições em seus campos de estudos. Abaixo, conheça as principais descobertas e pesquisas dos laureados de 2022. 

Maryna Viazovska

Foto da matemática ucraniana Maryna Viazovska em frente a uma lousa.
(Institut des Hautes Études Scientifiques (IHÉS)/Reprodução)
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Você já tentou guardar bolas de futebol dentro de uma caixa? Encontrar a melhor maneira de organizá-las para fazer caber o maior número de bolas possível não é fácil. Agora imagine isso com infinitas bolas. Em uma caixa de oito dimensões.

Foi esse problema que rendeu a medalha a Maryna Viazovska. Ela criou uma fórmula que prova qual a maneira mais eficiente de encaixar esferas em oito dimensões – um problema que ela levou 13 anos para resolver.

James Maynard

Retrato de James Maynard.
(Ryan Cowan/Reprodução)

Uma das maiores incógnitas da matemática é o fato de que não existe um método totalmente confiável para prever a distância entre os números primos. Essa distância aumenta à medida que avançamos (2; 3; 5; 7; 11…), mas não há uma fórmula para prever onde estará o próximo. Outro detalhe que complica ainda mais a questão é que existem infinitos números primos.

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James Maynard demonstrou que existe pelo menos alguma lógica nos espaços entre eles. Vamos entender.

Os números primos que são separados por apenas dois números são chamados “primos gêmeos”: 3 e 5; 11 e 13; 17 e 19, por exemplo. A frequência dos primos gêmeos diminui à medida que avançamos na lista de números primos, mas eles ainda dão as caras de vez em quando (197 e 199 é outro exemplo de primos gêmeos).

O matemático da Universidade de Oxford demonstrou que há um número infinito de pares de primos gêmeos cuja distância é menor que 600. Maynard também provou que existe um número infinito de primos que não contém o número 7.

June Huh

Retrato de June Huh.
(Lance Murphey/Reprodução)
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O trabalho do professor da Universidade de Princeton envolve a aplicação de geometria para solucionar questões de análise combinatória. Pense em uma forma simples, como um triângulo, e considere a seguinte questão: dado um certo número de cores, de quantas maneiras eu posso pintar os vértices de forma que nenhuma cor de repita? A expressão matemática que soluciona esse problema é chamada polinômio cromático.

Essa mesma pergunta pode ser feita para formas geométricas mais complexas. June Huh descreveu as propriedades matemáticas desses polinômios cromáticos. As suas contribuições incluem a prova da Conjectura de Dowling–Wilson, Heron–Rota–Welsh e Mason.

Hugo Duminil-Copin

Retrato de Hugo Duminil-Copin.
(Matteo Fieni/Reprodução)

Dentre os quatro laureados, Duminil-Copin é o que tem a pesquisa menos abstrata. Ele estuda a interação entre dipolos magnéticos que existem dentro dos ímãs. Quando aquecidos, eles adotam um comportamento aleatório, apontando para direções diferentes. Prever o comportamento desses mini ímãs é como tentar descrever o comportamento de cada gota de uma fonte de água.

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Para fazer isso, os matemáticos usam probabilidade para descrever o sistema. Acontece que, no caso dos ímãs, o modelo existente mais famoso (chamado Modelo Ising) lida com o caso em apenas duas dimensões – enquanto um ímã de verdade tem três. O professor da Universidade de Geneva encontrou uma forma de adaptar o modelo probabilístico para três dimensões. Isso foi feito usando a Teoria da percolação em redes.

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