Até a minha adolescência, toda véspera de prova de matemática era um pesadelo. Perdia o sono, tinha dores no peito, recusava qualquer atividade que não fosse estudar equações e transformava a vida da minha família em um inferno. Só de pensar que teria que interagir com números sem ajuda de ninguém acelerava meu coração, minhas mãos tremiam e suava frio.
Tinha colocado na cabeça que não era uma pessoa matemática e ponto. Minha praia eram as letras, interpretação, literatura, idiomas, história – números só se fossem romanos, porque, apesar de serem números, continuavam sendo letras. Acreditava que meu cérebro não fosse capaz de ler algarismos.
Mas minhas notas mostravam o contrário, meu cérebro conseguia decodificá-los. Na época, meus pais achavam que esse auê era apenas exagero, nem imaginavam que matemática pudesse doer. E dói.
Pesquisadores da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, comprovaram que conexões neurais relacionadas a dor são ativadas quando pensamos em números. Se eu fizesse parte dos voluntários da pesquisa, provavelmente seria diagnosticada com o que eles chamam de HMA (High Math Anxiety), ansiedade matemática elevada.
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O medo de sofrer é pior que o sofrimento
Nas horas que antecediam a prova, minha mãe dizia que se eu estudasse e me concentrasse naquelas equações e teoremas, o pavor passaria. O conselho estava certo: os pesquisadores descobriram que os sentimentos de apreensão, pânico e tensão acontecem quando cogitamos resolver os problemas matemáticos, não quando, de fato, calculamos. No momento em que sentamos a bunda na cadeira para determinar ângulos, catetos ou os valores de x,y ou z, nosso cérebro se ocupa e não sentimos mais os efeitos da ansiedade.
Os cientistas também explicam o porquê de pessoas avessas aos números continuarem sempre com o estigma de pessoas “não matemáticas”. Além do bloqueio emocional, isso ocorre porque fugimos de todas as situações em que precisamos calcular – colamos na escola, passamos a conta do bar para um amigo, contratamos um contador para fazer nosso imposto de renda – esses escapes impedem que nossas habilidades numéricas melhorem e que encaremos o medo de números.
Pense em matemática como um desafio, não como um obstáculo
Felizmente, há formas de interromper esse ciclo vicioso. O estudo defende que matemática também é criatividade. Apesar dos problemas de álgebra, geometria e logaritmos exigirem respostas exatas, as formas para encontrá-las não precisam ser herméticas. Faça os cálculos e ignore o quão difíceis eles parecer ser – mais papel e menos pressão. O seu cérebro vai dar conta.
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