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Mapa 3D mostra que a Via Láctea não tem o formato que se imaginava

Pesquisadores chineses constataram que se nossa galáxia é como um disco de vinil que entortou depois de tomar sol.

Por André Oliveira
Atualizado em 6 fev 2019, 18h57 - Publicado em 5 fev 2019, 16h28

É claro que nenhuma espaçonave, muito menos um ser humano, foi tão longe no espaço a ponto de sair da Via Láctea e fotografá-la de fora, diretamente do breu intergaláctico. Mas nós conseguimos ter uma ideia do formato dela a partir das fotos que os telescópios tiram da vizinhança cósmica, além da observação de estrelas, do gás e da poeira dentro de nossa própria galáxia.

E o que esses registros sempre sugeriram é que a Terra está no meio de um disco perfeitamente plano e achatado. Ao que tudo indica, porém, estivemos errados esse tempo todo. De acordo com uma pesquisa publicada nesta segunda-feira (4) no periódico Nature Astronomy, a enorme estrutura espiral em que o Sol e mais centenas de bilhões de estrelas estão inseridas tem as bordas deformadas.

É como um vinil velho, que entortou depois de tomar sol demais e agora fica pulando na vitrola.

Astrônomos vinculados aos Observatórios Astronômicos Nacionais da Academia Chinesa de Ciências (NAOC) chegaram à conclusão após estudar 1.339 estrelas de um tipo bastante especial, as Cefeidas. Elas vivem por pouco tempo e morrem jovens, como roqueiros das antigas. Podem ter até 20 vezes a massa do Sol e apresentar brilho 100 mil vezes maior.

Esse tamanho avantajado faz com que queimem todo seu combustível muito depressa, em alguns breves milhões de anos de vida. São pulsantes: sua luminosidade varia em períodos curtos, que podem se estender de alguns dias a poucos meses. Com esse dado em mãos, os astrônomos conseguem calcular precisamente as distâncias no espaço, algo que sempre foi um desafio.

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Representação em 3D da Via Láctea feita a partir do mapeamento das estrelas Cefeidas. (Reprodução/Nature Ecology & Evolution)

O grande trunfo dos pesquisadores chineses foi ter compilado um catálogo bem documentado de Cefeidas, com o qual conseguiram montar o primeiro mapa tridimensional preciso da Via Láctea. Contemplaram todo o diâmetro de 100 mil anos-luz, da zona central aos subúrbios estelares, e notaram que lá longe, na periferia, os átomos de hidrogênio e as estrelas que compõem nossa galáxia não ficam confinados em um disco plano e achatado – como acontece no centro. Estão mais dispersos, e a culpa é da gravidade.

Quanto mais distante do buraco negro supermassivo no centro de nossa galáxia, o Sagitário A*, mais fraca se torna a atração gravitacional a que os objetos estão submetidos. Isso faz o material nas extremidades do disco galáctico rotacionar de maneira mais solta — e confere à Via Láctea seu recém-descoberto jeitão um pouco torto.

Fotos de galáxias vizinhas indicam o mesmo padrão distorcido. “Combinando nossos resultados com essas outras observações, concluímos que a forma espiral deformada da Via Láctea é provavelmente causada pelos torques, a força rotacional do massivo disco interno”, afirmou em nota o astrônomo Liu Chao, um dos autores da pesquisa. Se agora sabemos que nem mesmo nossa galáxia é plana, que dirá a Terra.

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