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Ir ao espaço prejudica a saúde? Não tanto quanto pensávamos

Últimas novidades do estudo com gêmeos astronautas sugerem que a ação da microgravidade no corpo humano é reversível (até certo ponto). Boa notícia para futuras missões tripuladas para a Lua ou Marte.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 12 abr 2019, 16h47 - Publicado em 12 abr 2019, 16h46

Talvez você tenha lido aqui na SUPER ou por aí na internet que, na próxima década, vamos testemunhar o retorno de pessoas à órbita e à superfície lunar. As principais agências espaciais do mundo já se movimentam para começar a desenvolver uma estação orbital ao redor da Lua e criar uma presença humana permanente no espaço profundo.

Só tem um problema: a ciência ainda não sabe muito bem os efeitos da microgravidade no corpo humano, e nem como manter astronautas saudáveis durante e depois de missões longas.

Para começar a preencher essa lacuna, a NASA bolou uma pesquisa inédita na história da exploração espacial – que começa a gerar alguns resultados concretos. O que a agência fez foi recrutar dois de seus astronautas aposentados, os gêmeos idênticos Mark e Scott Kelly, para serem submetidos a uma bateria de exames. A etapa principal do chamado Estudo dos Gêmeos ocorreu entre março de 2015 e março de 2016, quando Scott passou 340 dias na estação espacial, enquanto Mark permaneceu na Terra.

É engenhoso pois reproduziu um método muito comum em experimentos científicos comparativos. Submeteu duas “amostras” iguais a condições diferentes e, depois, comparou as duas para avaliar o que mudou. Os números e a escala do Estudo dos Gêmeos impressiona: dez investigações diferentes foram conduzidas em paralelo, por 84 pesquisadores de 12 universidades espalhadas por 8 estados dos EUA.

Eles analisaram dados coletados do sangue, urina e fezes dos irmãos ao longo de 27 meses, antes, durante e depois do ano que Scott passou no espaço. E o principal artigo apresentando um panorama dos resultados em todas as frentes dessa pesquisa acaba de ser publicado na revista Science.

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“Esse time de times conduziu um estudo sem precedentes em seu escopo de diversos níveis da biologia humana: de análises moleculares de células e do microbioma à fisiologia e cognição”, disse em comunicado Craig Kundrot, diretor da divisão da NASA que idealizou a pesquisa. No geral, as principais descobertas apontam que o corpo humano é capaz de se adaptar a diversas mudanças induzidas pelo ambiente espacial, como a ausência de gravidade e os níveis extremos de radiação.

Entre os pontos mais relevantes que vieram à tona está a conclusão de que o sistema imunológico de Scott Kelly funcionou apropriadamente mesmo tendo passado um ano em órbita. Sua resposta a uma vacina de gripe foi exatamente a mesma que a reação típica da imunização na Terra. Isso é uma boa notícia para proteger a saúde de futuros astronautas em voos de longa duração. No nível genético, há também resultados importantes.

O ambiente espacial mudou bastante o padrão em que os genes de Scott se expressavam: essas mudanças são respostas do corpo tentando se adaptar a um ambiente estranho. Mas 91,3% da expressão genética voltou ao normal dentro de seis meses do retorno para casa. E quanto às alterações no microbioma, a diversidade de micróbios no intestino que é essencial para o bom funcionamento de nosso organismo, elas não foram maior do que as que ocorrem normalmente em ambientes estressantes aqui na Terra. Essas descobertas representam apenas a ponta do iceberg dos estudos sobre o corpo humano no espaço.

“O Estudo dos Gêmeos nos deu a primeira visão molecular integrada das mudanças genéticas, e demonstrou como um corpo humano se adapta e permanece robusto e resiliente mesmo depois de passar quase um ano a bordo da ISS”, disse Jennifer Fogarty, cientista-chefe do Programa de Pesquisa Humana da NASA. “Esses dados vão ser explorados por muitos anos.” Quando nos estabelecermos, com segurança, na Lua e em Marte, terá sido graças aos esforços dos gêmeos Kelly – e dos cientistas que os estudaram.

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