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Incidência de raios no Brasil deve chegar a 100 milhões por ano no fim do século

O aumento da incidência de raios no país está associado às mudanças climáticas e aumento de temperatura – e pode trazer consequências graves para a tecnologia.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 13 mar 2024, 17h32 - Publicado em 1 out 2021, 18h12

O Brasil é o país do samba, do futebol e também dos raios. Anualmente, 77,8 milhões de descargas elétricas atingem o território – a maior incidência entre todos os países do mundo. E o número pode estar prestes a aumentar: pesquisadores do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat/Inpe) mostraram que, entre os anos de 2081 e 2100, o valor deve alcançar a casa dos 100 milhões por ano.

A informação foi divulgada no livro “Brasil: Campeão Mundial de Raios”, escrito por Osmar Pinto Jr. e Iara Cardoso, pesquisadores e fundadores do Grupo de Eletricidade Atmosférica. Para chegar à conclusão, a dupla considerou as condições meteorológicas previstas pelos Modelos Climáticos Globais (MCG), levando em conta que, até o final do século, o Brasil pode enfrentar um aumento de temperatura de até 4 ºC. Esse acréscimo já é previsto no cenário considerado ruim divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Esse cenário deve ocorrer caso as emissões de gases do efeito estufa continuem, sem considerar o Acordo de Paris.

O Brasil é o principal alvo dos raios por ser o maior país localizado na região tropical do planeta, com clima quente e chuvoso. A projeção prevê um maior aumento de descargas elétricas na região Norte (50%) e um crescimento em menor grau na região Nordeste (10%). A Amazônia, região extremamente úmida e com presença de floresta, favorece as tempestades com chuva e raios. Já o litoral nordestino possui ventos muito fortes que sopram do oceano para o continente, impedindo que as nuvens de tempestade cresçam e subam muito. As chances de formação de raios são menores quando as nuvens estão baixas, e por isso o Nordeste sofre menos com o fenômeno.

Há ainda outros fatores que podem influenciar na incidência das descargas elétricas. Em entrevista à Super, Osmar Pinto Jr. falou sobre a urbanização e a possível transformação de metrópoles intermediárias em megacidades até o fim do século. Mais arranha-céus significa também mais raios. 

Além disso, outros fenômenos climáticos também podem induzir piores cenários. Apesar da média anual de raios brasileira ser 70 milhões, o país recebeu 110 milhões de descargas elétricas em 2020 devido ao La Niña, fenômeno oceânico-atmosférico que diminui a temperatura do Oceano Pacífico Equatorial e leva a maior incidência de chuvas no norte e nordeste brasileiro. “Imagine no final do século, quando a média [de raios por ano] for 100 milhões. Com um evento como o La Niña, poderemos bater valores em torno de 140, 150 milhões”, exemplificou o pesquisador. 

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A alta na incidência de raios pode trazer impactos negativos para o país. “Nós temos um exemplo da Inglaterra, que ocorreu há alguns anos atrás. Um raio que causou pane no sistema de computadores da Google. A plataforma saiu do ar por algumas horas. Esse tipo de situação pode se tornar mais frequente, e cada vez nós dependemos mais dessas comunicações”, diz Osmar Pinto Jr. E com cada vez mais pessoas dependendo da tecnologia para trabalhar e estudar, os raios se tornam uma ameaça para o funcionamento da sociedade.

Anualmente, os raios atingem cerca de 300 brasileiros, matando uma em cada três deles. Os animais e plantas também são alvos. Na Amazônia, milhões de árvores são atingidas e mortas todos os anos por raios, e os microrganismos que vivem na floresta também são impactados pelos campos elétricos intensos criados pelas descargas. Coletar dados sobre os raios permite que a sociedade se prepare para o que está por vir, desenvolvendo sistemas de proteção. 

O livro “Brasil: Campeão Mundial de Raios” está disponível para compra na versão online. A obra ainda inclui um histórico acerca do monitoramento de raios no Brasil desde o século passado, como o país ganhou o título de campeão mundial de raios, e panoramas para o futuro.

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