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IgNobel: a ciência ri da ciência

Temido por muitos pesquisadores do mundo inteiro, o IgNobel é o Prêmio Nobel às avessas. Seus ganhadores são pessoas ou institutos que gastaram tempo e dinheiro produzindo trabalhos inúteis, engraçados ou definitivamente absurdos.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 31 mar 1995, 22h00

Ricardo Bonalume Neto

Há cientistas que fazem coisas geniais. Mas, como todos os seres humanos, eles às vezes cometem besteiras. E que besteiras. Robert A. Lopez, um veterinário de Westport, Nova York, por exemplo, coletou amostras do parasita Otodectes cynotis, comum em gatos, e, para ver o que acontecia, as colocou no próprio ouvido, um método discutível cientificamente e com certeza perigoso. Ainda pior fez a Agência Meteorológica Japonesa, que passou sete anos estudando a influência do movimento da cauda dos peixes sobre os terremotos.

Desde 1991, os autores de asneiras desse tamanho passaram a ser homenageados com o IgNobel, cujo nome é formado com um trocadilho das palavras ignóbil e Nobel, referência ao famoso prêmio oferecido pela Real Academia da Suécia. Ganhar o IgNobel se transformou num temor permanente para muitos estudiosos. O “antiprêmio” foi criado por iniciativa do jornalista Marc Abrahams e de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusets (MIT), nos Estados Unidos. Abrahams é editor do Anais da Pesquisa Improvável e ex-editor do Jornal dos Resultados Irreproduzíveis.

O físico Edward Teller também ganhou o IgNobel — o da Paz — porque criou a bomba de hidrogênio americana, um instrumento de guerra. Foi uma brincadeira dos organizadores do evento. Vê-se, então, que nem tudo é besteira, no sentido puro e simples da palavra. Costumam participar da cerimônia de premiação alguns cientistas que ganharam o outro prêmio, muito mais cobiçado (o Nobel), dos quais o próprio MIT, aliás, tem uma galeria respeitável. Ela acontece sempre no mês de outubro, na mesma época do ano em que são divulgados os vencedores do Nobel.

 

 

E o IgNobel vai para…

A seguir, alguns dos ilustres ganhadores. Gênios incontestáveis, para o bem, para o mal, ou simplesmente para o mais completo ridículo.

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1991

Biologia

Robert Graham, porque inventou um banco de sêmen que aceitava doações de esperma de ganhadores do outro prêmio, o Nobel (o de verdade). A idéia até parece boa, mas soa como um segregacionismo aos modos de Hitler. Além disso, o fato de ter sido gerado com o sêmen de um gênio não significa que uma criança receba como “herança” essa virtude.

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Paz

O físico Edward Teller, por ter criado a bomba de hidrogênio americana. Teller também é o mentor do programa “Guerra nas Estrelas” de defesa espacial contra mísseis balísticos.

 

Economia

Michael Milken, operador da Bolsa de Valores de Nova York, que criou ações fantasmas e faturou milhões de dólares até ser descoberto. Por isso, foi condenado a 20 anos de cadeia e não pôde ir receber o prêmio.

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1992

Medicina

Uma equipe japonesa do Centro de Pesquisa Shisedo, de Yokohama, pelas valiosas pesquisas sobre as causas do chulé. De fato a pesquisa, em si, é séria. O engraçado foi a conclusão do trabalho, que parece não concluir nada: “Quem acha que tem chulé, sempre tem, e quem acha que não, não tem mesmo.”

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Arqueologia

Um grupo de escoteiros, o Éclaireurs de France, que apagou importantes pinturas pré-históricas em uma caverna achando que eram pichações, quando realizavam uma “cruzada pela limpeza”.

 

Literatura

Yuri Struchkov, por ter participado como co-autor de 948 artigos ciêntíficos, de 1981 a 1990, o que dá uma boa média de produção intelectual: um artigo a cada 3,7 dias. Mas Struchkov é um simples operador de um equipamento e acabou ganhando os créditos, como co-autor, até em algumas pesquisas das quais não entende patavina.

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Biologia

O médico americano Cecil Jacobson, pelo seu “método de controle de qualidade do sêmen na inseminação artificial”. Ele só inseminava mulheres com o próprio sêmen.

 

 

 

1993

Medicina

Os médicos James Nolan, Thomas Stilwell e John Sands Jr. Eles fizeram trabalhos, publicados em duas revistas de medicina sérias, explicando a seus colegas de profissão como se deve proceder nos casos em que um pênis fica preso em um zíper.

 

Química

James e Gaines Campbell, que inventaram o odioso método de se colocar perfume nas páginas de revistas.

 

Literatura

São 972 ganhadores, que fazem parte de uma equipe que fez uma pesquisa médica internacional, em 15 países. O resultado saiu em uma das mais prestigiosas revistas médicas do planeta, a The New England Journal of Medicine, assinado pelos 972 co-autores.

 

 

 

1994

Física

Agência Meteorológica Japonesa, por um estudo de sete anos sobre possíveis terremotos causados pelo movimento de peixes rebolando suas caudas.

 

Economia

Juan Pablo Davila, corretor e ex-empregado da Codelco, uma empresa do governo do Chile. Ele instruiu seu computador para comprar quando queria vender, provocando um enorme prejuízo à estatal. Em seguida, fez negócios desastrados tentando recuperar o prejuízo que causou.

 

Entomologia

Robert A. Lopez, veterinário de Westport, Nova York, que coletou parasitas Otodectes cynotis, comum em gatos, e os colocou no próprio ouvido, para ver o que acontecia.

 

Medicina

Richard C. Dart, do Centro de Veneno de Rocky Mountain, Richard A. Gustafson, da Universidade de Arizona, e o paciente, um ex-fuzileiro naval cujo nome foi omitido. Os médicos levaram o prêmio pelo seu artigo “Fracasso do Tratamento com Choque Elétrico para Envenenamento por Cascavel”, e o paciente, por ter sido picado por sua cobra de estimação e pedido para ser tratado com choques no lábio.

 

Paz

John Hagelin, da Universidade Maharishi e do Instituto de Ciência, Tecnologia e Política Pública, de Washington, DC, pela sua conclusão de que uma meditação feita por 4 000 pessoas na capital dos Estados Unidos baixou em 18% o crime violento na cidade.

 

Matemática

A Igreja Batista Sulista de Alabama, pela sua contagem precisa, em cada um dos municípios do Alabama, de quantos cidadãos poderão ir para o inferno caso não se arrependam de seus pecados.

 

Biologia

W. Brian Sweeney, Brian Kratte-Jacobs, Jeffrey W. Britton e Wayne Hansen, pelo revolucionário estudo “O soldado com prisão de ventre: Prevalência entre tropas dos EUA”, publicado em Military Medicine.

 

Psicologia

Lee Kuan Yew, ex-primeiro-ministro de Cingapura, por punir seus cidadãos toda vez que eles cospem, mascam chiclete ou alimentam pombos.

 

Literatura

L. Ron Hubbard, pela sua ficção científica, por ter fundado a Cientologia e escrito o livro Dianética, altamente lucrativo para a humanidade (ou uma parte dela).

 

Química

Bob Glasgow, senador estadual texano, por promover uma lei de 1989 para controlar drogas que tornou ilegal comprar tubos de ensaio e outros frascos de vidro para laboratório sem a devida licença.

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