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Hakuna Matata: mamíferos preferem frutas com maiores teores alcoólicos

Conforme as frutas amadurecem na floresta, elas fermentam, gerando etanol. E os nossos parentes peludos gostam mais do que as aves dessas caipirinhas da Mãe Natureza. Entenda por quê.

Por Caio César Pereira
20 jul 2023, 18h49

Você já deve ter ouvido o ditado “eu não confio em gente que não bebe”. E uma pesquisa recente mostrou que para os mamíferos, as aves podem não ser as espécies mais confiáveis do mundo. Isso porque eles tendem a preferir frutas com maior teor alcoólico do que seus companheiros alados.

Pesquisadores da Universidade de Calgary, da Zona de Conservação de Guanacaste e de outras duas instituições descobriram que as sementes das frutas com maior concentração de álcool tendem a ser mais amplamente dispersas por mamíferos, enquanto sementes de frutas mais lights viajam com as aves.

Para isso, os pesquisadores foram até uma reserva de floresta tropical na Costa Rica, e coletaram frutas de diversos lugares. Depois, em laboratório, eles fecharam essas frutas em sacos plásticos e utilizaram um bafômetro para medir a concentração de álcool exalada. Assim, eles descobriram que 78% das frutas coletadas tinham quantidade de álcool o suficiente para ser detectado.

Você pode estar se perguntando: frutas possuem álcool? Tecnicamente, não. O que elas produzem é uma variedade de tipos de açúcares que vão atrair leveduras (aqueles mesmos fungos utilizados na produção de cerveja). Esses fungos então vão se “alimentar” do açúcar em um processo chamado fermentação. O produto desse processo é o etanol, ou para aqueles mais chegados no copo, o álcool.

As árvores foram adotando diversas formas de assegurar sua reprodução conforme evoluíam. Usar frutas saborosas e açucaradas para a dispersão de sementes e frutos foi uma das mais notáveis e bem sucedidas.

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As espécies animais no ambiente, como mamíferos e pássaros, também foram se adaptando, e em um processo conhecido como coevolução, passaram a se alimentar dos frutos produzidos, se tornando assim essenciais para esse processo de dispersão.

Ainda não se sabe ao certo, mas os pesquisadores acreditam que essa diferença encontrada entre os frutos dispersos pelos mamíferos e pelas aves se deve aos seus sistemas sensoriais. As aves se orientam principalmente pela sua grande capacidade ocular: sua visão tem quatro cones de recepção de cores (contra dois ou um da maioria dos mamíferos), o que significa que elas veem formas de luz invisíveis para nós. Os mamíferos, por outro lado, tem o tato e, principalmente, o olfato, como suas principais armas.

Todo brasileiro conhece o cheirinho indiscreto de uma garrafa de Velho Barrero (ou só de álcool Zulu, mesmo). Isso pode explicar por que os mamíferos são mais atraídos pelos frutos que possuem mais álcool: quanto maior o teor alcoólico, mais fácil é cheirar as frutas de longe – e encontrá-las na mata fechada.

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