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Gripe aviária matou 96% dos filhotes de elefante-marinho na Argentina

O vírus H5N1 eliminou 17 mil indivíduos. E sua transmissão entre mamíferos abre um precedente perigoso para espécie humana.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 24 jan 2024, 19h11 - Publicado em 24 jan 2024, 19h10

 

Uma cepa altamente contagiosa de gripe aviária está fazendo vítimas na Argentina. Mas elas não são frangos, tampouco humanos, e sim filhotes de um mamífero chamado Elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina) – estima-se que 96% dos jovens da espécie tenham morrido.

Essa é a primeira vez que um surto de H5N1 causa mortalidade extrema em uma população dessa espécie. A presença do vírus foi confirmada pelo Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (uma Anvisa argentina) em amostras colhidas de elefantes-marinhos na Península Valdés, uma região da Patagônia.

“Ver elefantes-marinhos mortos ao longo das praias em que eles se reproduzem só pode ser descrito como apocalíptico”, afirma Chris Walzer, diretor de saúde da Wildlife Conservation Society.

As três praias onde a espécie se reproduz tinham mais de 17 mil corpos de filhotes de elefantes marinhos do sul. Em 2022, 18 mil filhotes tinham nascido e sido desmamados com sucesso. Ou seja: praticamente uma geração inteira de elefantes-marinhos da península foi perdida.

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Leva pelo menos três anos para que esses animais atinjam a maturidade, então essa perda só será sentida em 2027 – quando haverá muito menos adultos disponíveis para reprodução.

Elefantes marrinhos mortos
17 mil elefantes-marinhos morreram infectados pelo vírus da H5N1 na Península de Valdes, Argentina. (Foto: Maxi Jonas/Reprodução)

Um relatório do caso foi publicado no periódico especializado Marine Mammal Science.

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H5N1 e mamíferos

Embora o H5N1 exista e seja conhecido por cientistas desde 1996, durante anos ele circulou principalmente entre aves – primeiro as domesticadas, como galinhas, depois as selvagens. Nessas aves, ele é altamente letal: algo 90% a 100% dos infectados morre.

No início, acreditava-se que o vírus estaria restrito ao mundo das penas. A contaminação de humanos era rara e ocorria só com aqueles que entraram em contato direto com as aves infectadas. Nunca houve transmissão de humano a humano. 

Casos de infecção de outros mamíferos estão cada vez mais comuns, ainda que seja raro o vírus ganhar a capacidade de se transmitir de mamífero para mamífero, como provavelmente aconteceu na Argentina. O comum são casos isolados, a exemplo do que acontece conosco. 

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Algumas das primeiras vítimas foram os visons, mamíferos criados para produzir casacos de pele. Depois, raposas, lontras, golfinhos, focas, ursos pardos e, recentemente, um urso polar entraram para a lista. Estima-se que, ao todo, o vírus já tenha infectado cerca de 345 espécies de aves e mamíferos.

Vários dos mamíferos da lista acima são predadores e provavelmente contraíram o vírus diretamente das suas presas. Porém, os filhotes de elefantes-marinhos, quando ainda na fase de amamentação, não tendem a entrar em contato direto com fluidos de aves, o que reforça a hipótese da transmissão dentro da própria espécie. 

Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) adverte as autoridades a se prepararem para a possibilidade de propagação entre humanos. Eles também aconselham a qualquer que evite contato com animais doentes ou mortos.

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“A falta de ação já causa uma grande perda de vida selvagem”, afirma Walzer. “Enquanto trabalhamos para ajudar a recuperação das populações afetadas, devemos permanecer vigilantes contra a propagação deste patógeno mortal às pessoas, antes que seja tarde demais”.

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