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Fóssil de caranguejo de 85 milhões de anos é descoberto na Antártica por brasileiros

Registro raro ajuda a reconstituir a geografia e o clima de um passado em que o continente gelado era quente e úmido.

Por Luiza Lopes
Atualizado em 19 ago 2025, 18h51 - Publicado em 12 ago 2025, 18h00

Um caranguejo fossilizado, encontrado por cientistas brasileiros na Ilha James Ross, na Antártica, está ajudando a reescrever parte da história evolutiva dos crustáceos. Batizado de Sabellidromites santamarta, o animal viveu no período Cretáceo, há cerca de 85 milhões de anos, quando a região estava longe de ser o deserto gelado que conhecemos hoje.

O fóssil foi descoberto durante a 41ª Operação Antártica Brasileira, expedição que envolveu 32 dias de trabalho em campo, em um acampamento isolado e sujeito a ventos de 70 km/h. A pesquisa, publicada na revista científica Journal of Paleontology, integra o projeto PALEOANTAR, uma iniciativa do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Pesquisadores da a Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) também participaram da pesquisa, que teve apoio logístico da Marinha do Brasil.

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“O caranguejo S. santamarta é único por vários motivos”, afirma Daniel Lima, paleontólogo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da Universidade Regional do Cariri (URCA) e primeiro autor do estudo, à Super. “Ele está bem preservado, incluindo partes raras como o ventre e as patas traseiras – detalhes dificilmente encontrados em fósseis de caranguejos.”

“Além disso, pertence ao grupo Dynomenidae, considerado relicto, ou seja, um ‘sobrevivente’ de um passado distante. São animais que já foram muito mais diversos e abundantes, mas hoje existem apenas em poucas espécies e áreas restritas. Isso torna cada registro fóssil uma peça importante para entender sua história evolutiva. Para se ter uma ideia, existem atualmente apenas 22 espécies viventes e 42 fósseis”, acrescenta.

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Fotografia dos fóssil do caranguejo  Sabellidromites santamarta.
Imagem do fóssil do caranguejo  Sabellidromites santamarta. (PALEOANTAR/ Museu Nacional/UFRJ/Divulgação)

Mas o que torna essa descoberta ainda mais especial é o local onde ela foi feita: a Antártica.

Aqui, precisamos voltar no básico da história da Terra. Durante o período Cretáceo, a geografia dos continentes era muito diferente: América do Sul, África, Antártica e Austrália formavam Gondwana, enquanto América do Norte, Europa e Ásia compunham Laurásia.

Entre eles, o oceano Tétis funcionava como uma estrada marinha, conectando regiões tropicais e temperadas e permitindo a dispersão de organismos marinhos por grandes distâncias.

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Até agora, fósseis semelhantes haviam sido encontrados quase exclusivamente em áreas que integravam a Laurásia. O novo fóssil, entretanto, foi encontrado ao sul, onde era o antigo Gondwana, o que sugere uma distribuição geográfica muito mais ampla do que se imaginava.

“Isso indica que houve conexões marinhas capazes de permitir a troca de espécies entre os hemisférios do planeta”, explica Lima.

Naquele tempo, a Antártica tinha clima quente e úmido, com temperaturas médias de 15 °C a 23 °C, florestas densas, rios e mares de águas mornas, povoados por peixes, moluscos, corais e répteis marinhos como plesiossauros.

O estudo do fóssil também levou a uma revisão na classificação científica do gênero Sabellidromites. A presença de placas endurecidas na cauda e a redução apenas da quinta pata indicam que ele pertence à família Dynomenidae, e não àquela em que era colocado anteriormente.

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“Essa mudança é relevante porque afeta a forma como entendemos a evolução e a distribuição desses caranguejos”, destaca o pesquisador.

A coleta do exemplar envolveu uma logística complexa, como relembra o paleontólogo Renato Ghilardi, da UNESP, que participou da missão. Após deixar o Rio de Janeiro de avião rumo a Punta Arenas, no Chile, a equipe seguiu de navio até a Antártica. De lá, um helicóptero levou os pesquisadores até a Ilha James Ross. 

“Ficamos isolados por mais de um mês, cozinhando nossa própria comida e vivendo em barracas especiais. Sem a Marinha, seria impossível fazer esse trabalho”, conta à Super.

A descoberta levanta novas questões: quantas outras espécies semelhantes viveram na Antártica? Por quais rotas marinhas elas chegaram até lá? E a que outros grupos dentro dos Dynomenidae estão mais próximas? 

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As respostas devem aparecer ao longo das novas escavações, em que os pesquisadores planejam comparar o novo fóssil com espécies do Hemisfério Norte e investigar mais a fundo a evolução desse grupo.

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