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Esse peixe desenvolveu “perninhas” – e elas sentem gosto

O falso-voador-marrom usa seus “membros” para revirar a areia em busca de presas; veja vídeo.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 10 out 2024, 20h09 - Publicado em 10 out 2024, 16h00

Parece ficção científica, mas é isso mesmo que você leu: o peixe da espécie Prionotus carolinus, conhecido no Brasil como falso-voador-marrom, possui apêndices muito parecidos com perninhas, que ele usa para cavar no chão em busca de comida. Agora, uma equipe de cientistas descobriu mais uma coisa fascinante: essas patinhas possuem a habilidade de sentir gosto, como uma língua, permitindo que o peixe procure por comida com mais facilidade.

A espécie fascina cientistas há tempos por conta da sua aparência bizarra: além das “pernas”, o falso-voado tem estruturas que parecem asas de aves. Agora, uma colaboração internacional de cientistas, liderados por pesquisadores de Harvard, mostrou que os “membros” possuem receptores químicos, parecidos com o que nós temos na língua.

Em dois novos papers, os cientistas fazem a descrição mais abrangente até agora sobre o uso das perninhas desses bichos, quais genes regulam o processo e o que podemos aprender com ele sobre evolução.

As “pernas” do peixe são, na verdade, extensões da sua nadadeira peitoral. Quando estão nadando próximos ao fundo do mar, falso-voadores-marrons usam-nas para revirar o chão em busca de pequenas presas. Veja um vídeo:

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Não se sabia, porém, se esses bracinhos eram acessórios meramente mecânicos, com o objetivo de cavar a areia e pedras, ou se tinha algum tipo de característica sensorial.

Em uma série de experimentos em laboratório, os cientistas descobriram que a segunda opção é a correta. Enquanto cavavam o chão, os peixes conseguiam encontrar o exato lugar onde estavam as presas sem nenhum tipo de dica visual, ou seja, estavam sentindo a presença deles de outra maneira. Quando os pesquisadores trocaram as presas por cápsulas contendo substâncias químicas, os peixes também conseguiram encontrá-las com facilidade, indicando que os apêndices são sensíveis a estímulos químicos.

Não dá para falar que eles sentem gosto da mesma maneira que a gente, claro. Mas, de alguma forma, respondem aos estímulos químicos.

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Só poucas espécies desse tipo de peixe, porém, têm essa habilidade. Uma outra espécie – a P. evolans – também tem pernas, mas usam-nas apenas para a locomoção, e não são observados escavando o solo em busca de comida.

Comparando as perninhas das duas espécies, os cientistas notaram que as patas do falso-voador-marrom eram diferentes das do seu primo: possuíam pequenas estruturas conhecidas como papilas, muito parecidas com as papilas gustativas que nós, humanos, temos na língua. A outra espécie, que tinha perninhas mas não cavava, também não possuía as papilas nas pernas. A equipe concluiu, então, que essas saliências constituem uma especialização – ou seja, primeiro esses bichos desenvolveram as pernas, e, mais tarde, algumas espécies do grupo passaram a usá-las para sentir gosto.

Fazendo uma pesquisa mais abrangente, os pesquisadores descobriram que as espécies desse gênero de peixes que usam as perninhas para vasculhar o chão são restritas a poucos lugares do mundo, indicando que esse é um traço relativamente recente na história evolutiva.

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No segundo artigo, os cientistas descobriram quais os genes e fatores de transcrição estão envolvidos nesse super-poder dos peixes. Eles descobriram que um dos genes mais importantes é o TBX3, que, em mamíferos, também está ligado ao desenvolvimento de membros (além de várias outras coisas). Quando os pesquisadores suprimiram esse gene em laboratório, os bichos nasciam com problemas no desenvolvimento das perninhas, das papilas e do comportamento de cavar o chão.

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