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DNA em “chiclete” de 5,7 mil anos conta como era a vida da garotinha que o mascou

Cientistas dinamarqueses fizeram uma análise genética na goma de mascar, que era feita de casca de árvore — e descobriram desde a aparência da garota até o que ela havia comido.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 19 dez 2019, 14h49 - Publicado em 19 dez 2019, 14h48

Pense duas vezes antes de cuspir aquele chiclete velho e sem gosto no chão: arqueólogos do futuro podem escavá-lo e conduzir uma investigação digna de CSI sobre a sua vida. Foi exatamente o que pesquisadores da Dinamarca fizeram. Cientistas acharam uma espécie de “goma de mascar” de 5,7 mil anos e realizaram nela uma análise genética completa. É a primeira vez que um genoma humano inteiro é extraído de algo que não sejam ossos.

E não foram reveladas só as características físicas de quem o mascou: o teste apontou também informações sobre os germes em sua boca, além do DNA de animais e vegetais, que permitiu saber o que a menina havia acabado de comer antes do chiclete. No estudo publicado nesta terça (17) na Nature Communications, os dinamarqueses descrevem tudo o que descobriram sobre Lola — a garota que viveu na ilha de Lolland, atual Dinamarca.

A goma de mascar nada tinha a ver com a que conhecemos hoje, à base de petróleo. Naquela época, o chiclete era produzido a partir da casca da bétula, uma árvore típica dos climas temperados do hemisfério norte. Os antigos humanos aqueciam essas raspas do tronco até que virassem uma substância pastosa, muito usada para colar ferramentas ou armas, para desinfetar a boca e talvez até para fins recreativos. Não há como saber.

Os resultados dos exames mostraram que Lola tinha pele escura, cabelos negros e olhos azuis. Curiosamente, seu feitio se assemelhava aos dos povos caçadores-coletores das regiões mais centrais e ocidentais da Europa, não com o dos agricultores que haviam se instalado recentemente na região da Escandinávia. Sua última refeição antes de mascar o fatídico chiclete de bétula consistia de avelãs e carne de pato.

Com o sequenciamento genético do microbioma na boca da garota, os cientistas verificaram que ela era portadora do vírus Epstein-Barr, da família da herpes. É um dos vírus mais comuns entre humanos e sua transmissão ocorre por via oral a partir da saliva. Causa mononucleose, a “febre do beijo”: seus sintomas são febre alta, cansaço extremo, dor de garganta e inchaço dos gânglios linfáticos. Lola provavelmente tinha essa doença.

A amostra foi coletada durante escavações em Syltholm, sul da Dinamarca. Ali o solo é rico em lama, condições que favoreceram a preservação da matéria orgânica. Outras gomas de mascar parecidas já haviam sido encontradas em sítios arqueológicos europeus. Agora que a técnica de análise foi refinada e mostrou todo seu potencial, outros cientistas devem querer aplicá-la — quem diria que chicletes milenares cairiam no gosto dos arqueólogos.

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