Descoberta aponta humanos do Paleolítico como essencialmente predadores
A dieta na Pré-História era entendida como uma mistura equilibrada de caça e coleta. Mas os hominídeos eram mais predadores do que se imagina.
A paleodieta ficou relativamente famosa durante meados de 2015. Ela prometia emagrecimento rápido e melhora da saúde em troca de um regresso: comer igual aos hominídeos do Paleolítico. Isso inclui consumo de carnes, vegetais, folhas, legumes e nozes. A dieta divide a opinião de nutricionistas até hoje. Mas, afinal, o quão certo estamos das refeições de nossos antepassados?
Um estudo realizado por antropólogos da Universidade de Tel Aviv, em Israel, e da Universidade de Minho, em Portugal, reconstruiu a posição dos homens primitivos na cadeia alimentar. Usando 25 evidências de diferentes áreas – genética, fisiologia, arqueologia, entre outras –, eles chegaram à conclusão de que, durante a parte final do Paleolítico, os humanos eram essencialmente caçadores. E caçadores de animais grandes.
A ideia de uma dieta onívora, equilibrada entre carnes e vegetais, vem de comparações com sociedades modernas de caçadores-coletores. Essa analogia é, para os pesquisadores, sem fundamento, uma vez que os tipos de animais e plantas disponíveis não são os mesmos do passado e não têm os mesmos valores nutricionais.
Evoluímos para o churrasco
Entre as características observadas está a quantidade de ácidos estomacais em nosso sistema digestório. O estômago humano tem ácidos mais fortes do que os necessários para uma dieta onívora e até do que de outros predadores – o que é ideal para matar bactérias possivelmente encontradas em pedaços de carne.
Outro ponto é a reserva de energia. No corpo de onívoros habituais, as células de gordura são grandes e poucas; o contrário é observado não só nos humanos, mas também em predadores. As células menores são mais facilmente quebradas; então, quando o caçador não encontra sua presa, as gorduras do seu corpo podem ser usadas para abastecer sua demanda energética.
No campo da genética fica ainda mais evidente: áreas do genoma humano foram fechadas para possibilitar uma dieta rica em gorduras, enquanto que, nos chimpanzés, a dieta priorizada é rica em açúcares.
Conforme os grandes mamíferos caçados pelos hominídeos eram extintos aos poucos, as sociedades primitivas também se modificaram. Ao fim do Paleolítico, elas haviam se tornado mais sedentários e iniciado o desenvolvimento da agricultura – a revolução Neolítica.
Entender o passado da humanidade é fundamental para compreender as origens de nossas características e por que somos adaptados da forma que somos. “A afirmação de que humanos eram predadores durante grande parte de seu desenvolvimento pode fornecer percepções fundamentais sobre a evolução biológica e cultural humana”, afirma Ran Barkai, um dos responsáveis pelo estudo.