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Coronavírus pode usar mais de uma proteína para infectar células humanas

Duas pesquisas publicadas na "Science" mostram que a proteína humana NRP1 se liga ao vírus, o que facilita sua entrada nas células.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 28 out 2020, 15h36 - Publicado em 28 out 2020, 15h32

Desde o início da pandemia os cientistas têm uma boa ideia de como o coronavírus infecta as células humanas. O Sars-Cov-2 utiliza as proteínas spike (semelhantes a “espetos”, que ficam na superfície) para se ligar ao receptor ACE2 presente nas células do nosso trato respiratório. Dessa forma, ele consegue entrar nas células e forçá-las a replicar seu material genético. Mas, agora, novas pesquisas indicam que o vírus também pode seguir outro caminho – e infectar células através dos receptores da proteína neuropilin-1 (ou NRP1).

Duas pesquisas conduzidas separadamente mostraram que essa proteína também se liga ao novo coronavírus, facilitando sua entrada na célula e potencialmente aumentando a infectividade do vírus. Os artigos foram publicados na revista Science.

A pesquisa conduzida pela Universidade de Bristol, no Reino Unido, usou uma técnica chamada cristalografia para “enxergar” a estrutura da NRP1 e entender de que forma ela se liga às proteínas spike do coronavírus. Em seguida, os pesquisadores avaliaram se ela de fato influencia na entrada do vírus nas células.

Eles infectaram dois tipos de célula humana: algumas que possuíam receptores NRP1 e ACE2 e outras que só tinham receptores ACE2. O coronavírus infectou mais células do primeiro tipo (com receptores NRP1). Além disso, quando os pesquisadores usaram uma molécula que bloqueia os receptores NRP1, o vírus conseguiu infectar menos células. Isso sugere que esses receptores são importantes para a infecção.   

A segunda pesquisa, conduzida paralelamente por pesquisadores da Alemanha e Finlândia, chegou à mesma conclusão. Esse estudo também sugere que os receptores NRP1 possam funcionar como “porta” alternativa para o coronavírus. Os cientistas usaram partículas de prata acopladas a uma versão sintética das proteínas spike. Em seguida, tentaram infectar células que só tinham os receptores NRP1 – e conseguiram. Os testes foram realizados em células de rato. 

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Apesar das limitações do modelo animal, a NRP1 pode explicar como o coronavírus consegue entrar em diferentes células. O artigo cita autópsias de vítimas da Covid-19, que constataram que o vírus infecta células da cavidade nasal que não possuem receptores ACE2, mas sim NRP1.

A proteína NRP1 está relacionada a vários processos do organismo, inclusive as sensações de dor – que transmite quando ligada a outra proteína, chamada VEGF-A. Um estudo mostrou que as proteínas spike do Sars-Cov-2 possuem efeito analgésico. Isso porque, ao se ligar aos receptores NRP1, elas ocupam o lugar da proteína VEGF-A, e bloqueiam a transmissão de impulsos de dor.

Entender mais sobre a NRP1 pode levar ao desenvolvimento de analgésicos, tratamentos e até vacinas mais eficientes. Até lá, diversas pesquisas continuam investigando quais outras proteínas contribuem para estratégia de infecção do coronavírus.

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