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Coração de astronauta encolheu 27% após um ano no espaço

A atrofia pode ser explicada pela ausência da força da gravidade. O mesmo foi observado no nadador Benoît Lecomte depois de nadar por 159 dias.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 31 mar 2021, 17h40 - Publicado em 31 mar 2021, 17h39

Os astronautas Scott e Mark Kelly participaram de um experimento da Nasa entre 2015 e 2016: enquanto um continuou sua vida normalmente na Terra, o outro passou um ano na Estação Espacial Internacional. O detalhe é que eles são gêmeos idênticos – o objetivo da experiência era analisar os efeitos no corpo humano após um ano no espaço e compará-los ao equivalente terrestre.

Uma nova pesquisa publicada no periódico Circulation verificou que o coração de Scott Kelly diminuiu após 340 dias no espaço. O ventrículo esquerdo, maior cavidade do músculo cardíaco, encolheu mais de um quarto pelo efeito da gravidade zero. A massa total do coração passou de 190 gramas para 139 gramas, uma redução de 27%.

Essa é só mais uma das consequências bizarras que o espaço provoca no corpo de astronautas. Os ossos perdem a densidade, o sangue não flui como deveria, os olhos achatam e, principalmente, os músculos atrofiam. Com o coração não seria diferente.

O encolhimento, no entanto, não afetou a capacidade cardíaca do astronauta lá em cima, nem tornou o órgão disfuncional. Segundo Benjamin Levine, professor da Universidade do Texas que participou do estudo, o coração se adaptou à gravidade reduzida, um efeito esperado após tanto tempo no espaço.

Na Terra, a força da gravidade faz com que qualquer movimento – desde levantar o braço até ficar em pé – já seja um pequeno exercício para os músculos. No espaço não há isso. Os astronautas precisam se exercitar diariamente para minimizar a perda de massa muscular e densidade óssea. 

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Scott Kelly se exercitava seis dias por semana durante duas horas, o que incluía treinos aeróbicos de 30 a 40 minutos em uma bicicleta ergométrica ou na esteira. Mesmo assim, o empenho não foi suficiente para compensar o esforço natural que o coração faz em resposta à gravidade terrestre. Sem ela, o músculo cardíaco não precisa de tanta força para bombear sangue ao corpo – e como qualquer músculo que passa muito tempo sem exercício, ele diminui.

A rotina intensa de treinos manteve o astronauta saudável e evitou que o coração atingisse níveis críticos. Mas a redução do músculo pode ser um problema em futuras missões a Marte. Se um astronauta não puder se exercitar por algum tempo (seja porque ficou doente ou porque o equipamento quebrou), ele pode se sentir tonto ou desmaiar ao chegar no planeta vermelho, já que o coração não terá força para bombear sangue ao cérebro.

Comparação com travessia a nado

A pesquisa ainda avaliou o tamanho do coração do atleta Benoît Lecomte, após ele tentar atravessar o Oceano Pacífico a nado em 2018. O ato de boiar por muito tempo pode ter efeitos semelhantes ao da gravidade zero, já que o corpo fica na horizontal e o coração não precisa de tanta força para bombear o sangue para cima.

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Lecomte passou 159 dias no mar. Ele nadava seis horas por dia, e passava o resto do tempo dormindo e descansando em um barco. Mesmo com tanto exercício, seu coração ficou 20% menor – segundo os cientistas, devido ao longo tempo dentro d’água.

Em entrevista ao New York Times, Levine disse que esperava que o coração ficasse maior, mas o fenômeno pode ser explicado pela baixa intensidade do exercício praticado pelo nadador. Para longas distâncias, o importante é manter a consistência na natação, e não chegar do outro lado o mais rápido possível. O próprio atleta descreveu a intensidade do exercício como uma caminhada acelerada.

Por outro lado, já foi observado que de uma a três horas de natação intensa faz o coração dos atletas aumentar. O novo estudo pode influenciar os programas de treinos propostos pela Nasa aos astronautas no espaço. Em vez de se exercitarem moderadamente por duas horas, talvez valha mais a pena investir em treinos intensos para reduzir os danos ao músculo cardíaco.

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