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Conheça a brasileira que estuda como o abandono parental afeta a aprendizagem

No #MulherCientista desta semana, Pâmela Carpes desvenda o que muda na bioquímica do cérebro de crianças que não recebem a devida atenção da família.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 11 set 2020, 13h07 - Publicado em 11 set 2020, 11h33

Apesar das diferenças entre os cérebros dos humanos e dos camundongos, esses animais são boas cobaias para estudar a aprendizagem do sapiens, pois os ratinhos são exploratórios por natureza. Sempre que encontram um objeto novo, eles cheiram o item até se familiarizarem com ele.⠀

A neurobióloga Pâmela Carpes, da Universidade Federal do Pampa, estuda como dois fatores – o Alzheimer e a falta de cuidados parentais na infância – afetam a aprendizagem em seres humanos. Como abrir a cabeça de pessoas por aí para fazer biópsias não é exatamente prático, ela usa camundongos de cobaias. ⠀

Ninguém duvida, é claro, que uma criança abandonada ou um idoso com uma doença neurodegenerativa terão mais dificuldades em aprender coisas. Muitos estudos comprovam essa associação, que pode soar um bocado intuitiva. A questão é outra: o que acontece dentro do cérebro dessas crianças e idosos? ⠀

Para descobrir, Pâmela e seus colegas apresentaram dois objetos novos para um camundongo conhecer. Como o animal nunca viu esses itens antes, ele passa aproximadamente o mesmo tempo explorando cada um deles. ⠀

Depois de algum tempo – horas, dias ou meses, dependendo do estudo –, os cientistas colocam um desses objetos já conhecidos na gaiola, junto com um novo objeto. Se o roedor reconhecer o objeto antigo, passará menos tempo nele para se dedicar a explorar o novo.⠀

É assim que Pâmela verifica se o ratinho conseguiu guardar a memória por algum tempo. O próximo passo é inserir a proteína beta-amiloide no cérebro dos camundongos. O acúmulo dessa proteína no sistema nervoso é típico das pessoas com Alzheimer. ⠀

Essa proteína forma placas que bloqueiam a conexão entre os neurônios, o que impacta diretamente na aprendizagem e na memória. Ao contrário dos outros roedores, o Mickey submetido a esse protocolo gasta o mesmo tempo explorando o objeto novo e o já conhecido. Isso prova que ele não se lembra da experiência anterior.⠀

Agora, vamos ao segundo tópico: a falta de cuidados parentais na infância. ⠀

Para simular essa situação, a pesquisadora submete os animais a um protocolo bem rígido: a mãe é retirada da gaiola do filhote durante três horas ao longo dos dez primeiros dias de vida do bebê. Dessa forma, ele ainda obtém os nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável, mas fica faltando aquele “carinho de mãe” na infância do bichinho. Cruel, mas é o que acontece com milhões de crianças ao redor do mundo, e isso tem impacto direto no desenvolvimento cognitivo delas.⠀

Pâmela verificou, então, que esses ratinhos abandonados também tinham dificuldade em reconhecer objetos. Para entender a causa disso, a pesquisadora quantificou as proteínas presentes no cérebro desses animais e percebeu uma escassez da proteína BDNF, que pode estar por trás do déficit de aprendizagem em ratos (e pessoas) que não receberam a atenção adequada dos pais quando crianças.⠀

A notícia boa é que existem formas de reverter o acúmulo dessa proteína. Uma delas é o exercício físico. Os ratos que foram submetidos a uma rotina de atividades voltaram a apresentar níveis normais de BDNF, mesmo que tenham sido negligenciados na infância. Isso pode guiar tratamentos ou embasar, por exemplo, políticas de incentivo ao esporte nas escolas.⠀

Além do trabalho no laboratório, Pâmela atua com professores da educação básica, transmitindo os conhecimentos de suas pesquisas para que eles possam ser aplicados na prática – ajudando crianças que não conviveram o suficiente com os pais na infância.⠀

Quem acompanha o Instagram da SUPER já conhece o #MulherCientista: a seção em que nós explicamos a vida e obra de mulheres lendárias (e esquecidas) do mundo acadêmico. Agora, em vez de contar a história de mulheres do passado, nossa repórter @m.clararossini vai entrevistar cientistas brasileiras do presente – e entender suas contribuições para um país em que a ciência anda tão negligenciada. Esses posts vão passar a aparecer também no nosso site. Este é o quinto da série. Até o próximo final de semana! 

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