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Como o cavalo se tornou o único animal de um dedo só

Os cavalos e seus parentes, burros e zebras, são os únicos animais do mundo que só tem um dedo. Uma cientista analisou 12 fósseis para entender por quê

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
24 ago 2017, 15h14

Você tem 20 dedos ao todo, cinco em cada membro. A baleia, coitada, nenhum. Vacas têm oito, dois em cada pata (antes que você se pergunte, eles atendem pelo nome de cascos, e sim, são dedos do ponto de vista anatômico).

Já os equídeos – que correspondem aos cavalos e seus parentes próximos, zebras e burros – são os únicos animais monodáctilos do mundo. Ou seja, faz pelo menos 5 milhões de anos que eles só têm um dedo, que na verdade é um casco rígido. E mais nada.

Como isso aconteceu?

Quem descobriu foi uma autêntica predestinada: Brianna McHorse, doutoranda da Universidade Harvard. Em um artigo científico, ela conta que um dos ancestrais mais antigos dos cavalos contemporâneos (o Hyracotherium, que viveu há 55 milhões de anos) tinha três dedos nas patas de trás e quatro nas da frente – e apenas 60 centímetros de comprimento, o tamanho de um cachorro médio.

Para fazer a ponte entre o Hyracotherium e os animais de 1,80 m de hoje em dia, ela usou fósseis de 12 equídeos intermediários – que surgiram e foram extintos em diferentes pontos da pré-história.

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Colocando esses esqueletos na ordem certa, é possível ver como a anatomia das patas de cada um deles reagiu a pressões evolutivas – como um aumento de peso ou uma mudança de habitat –, e entender porque eventualmente se tornou vantajoso para esses bichos desfilar um dedo só por aí.

Primeiro, McHorse e seus colegas usaram programas de computador para simular, com base nas leis da física, como era a distribuição de peso no corpo de cada um desses cavalos pré-históricos de acordo com o número de dedos que eles realmente tinham. Depois, adicionaram ou tiraram dígitos para ver se, do ponto de vista anatômico, eles teriam se dado melhor ou pior com patas um pouco diferentes.

A conclusão foi que, por uns 40 milhões de anos após o Hyracotherium, seus descendentes mantiveram um grande número de dedos: caso contrário, a pressão que seria aplicada sobre um único dígito durante longas caminhadas ou corridas seria grande demais, e o animal acabaria se machucando. É o mesmo motivo pelo qual caminhões muito grandes tem muitas rodas – quanto maior a área de contato com o chão, menor é o peso que cada pneu precisa suportar.

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Há 15 milhões de anos, porém, algo mudou. “Conforme a massa corporal aumentou e os dedos laterais encolheram, o dedo do meio compensou essas mudanças alterando sua própria geometria interna”, explicou em comunicado Stephanie Pierce, uma das autoras do estudo. “O volume do osso também aumentou, melhorando sua resistência à pressão, o que é crítico para animais de grande porte.”

Esse é, na verdade, um caso de ovo e galinha: é impossível saber se dedos laterais diminuíram primeiro, aumentando a necessidade do dedo do meio, ou se o dedo do meio cresceu, diminuindo a necessidade dos dedos laterais. As duas mudanças ocorrem de forma lenta e simultânea, compensando uma a outra ao longo de milhares de anos.

Importante mesmo é que na mesma época em que isso aconteceu os cavalos saíram das florestas e passaram a habitar pastos, onde é necessário caminhar longas distâncias para conseguir alimento. “É um gasto de energia muito grande ter um monte de dedos no final da perna”, afirmou McHorse ao The Guardian.  “Se você se livra deles, fica mais econômico erguer a pata para dar cada passo.” Em resumo: na hora de correr, é melhor usar só dedões, e os cavalos passaram a correr bem mais que o habitual.

Uma história não muito diferente da das baleias. Elas atingiram o tamanho atual por terem serem obrigadas a percorrer longas distâncias para conseguir crustáceos de almoço – o que justificou as reservas de gordura maiores e a capacidade de percorrer longas distâncias.

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