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Como funciona o medicamento brasileiro que pode ajudar a recuperar movimentos após lesões na medula

Derivada de uma proteína da placenta, a substância teve resultados promissores em fase experimental, mas ainda precisa de testes clínicos para comprovar segurança e eficácia.

Por Luiza Lopes
Atualizado em 14 set 2025, 16h27 - Publicado em 11 set 2025, 16h00

Uma proteína extraída da placenta humana pode abrir um novo caminho no tratamento de lesões na medula espinhal, condição que frequentemente leva à paraplegia (paralisia dos membros inferiores) ou tetraplegia (paralisia de braços e pernas).

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório farmacêutico Cristália, desenvolveram a polilaminina, um medicamento experimental que apresentou resultados promissores em animais e alguns pacientes. 

A substância tem como base a laminina, proteína presente no corpo desde a fase embrionária. A principal função dessa molécula é formar uma espécie de malha tridimensional que facilita a comunicação entre os neurônios.

Segundo os cientistas, quando reintroduzida no organismo, a polilaminina pode estimular neurônios maduros a criarem novos axônios – fibras que conduzem impulsos elétricos –, abrindo assim rotas alternativas para restabelecer a condução de sinais interrompidos pelo trauma. Em lesões recentes, o efeito tende a ser de proteção imediata contra o dano; em casos crônicos, talvez possa atuar na regeneração de conexões.

“É uma molécula de funções primitivas, presente até em esponjas marinhas. Por ser tão onipresente e necessária desde os estágios mais primitivos da vida, deveria ser mais observada e valorizada”, disse Tatiana Coelho de Sampaio, bióloga e professora da UFRJ que pesquisa a proteína há 25 anos, à Veja SP.

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Desde 2018, oito pacientes com lesões medulares completas foram tratados com a molécula em caráter experimental. Cada um recebeu uma única injeção de polilaminina diretamente na medula, em até 72 horas após o acidente. Seis sobreviveram e apresentaram graus distintos de recuperação motora.

O caso mais emblemático é o de Bruno Drummond de Freitas, que ficou tetraplégico após um acidente de trânsito. Tratado 24 horas depois, começou com movimentos discretos – como mexer o dedão do pé – e, ao longo de meses de fisioterapia intensiva, recuperou quase toda a mobilidade e voltou a andar e correr.

Outra paciente, a atleta de rugby em cadeira de rodas Hawanna Cruz Ribeiro, sofreu uma queda de dez metros em 2017 que a deixou sem movimentos abaixo do pescoço. Três anos depois, recebeu o medicamento e relatou avanços significativos: recuperação parcial do tronco, melhora da sensibilidade e autonomia para retomar o esporte de alto rendimento.

Também houve relatos de ganhos em pacientes crônicos tratados anos após o trauma. Nesse grupo, os efeitos parecem estar ligados mais à regeneração neuronal do que à proteção imediata. Nos testes com animais, a substância mostrou resposta rápida: ratos voltaram a se mover em 24 horas, enquanto cães com lesões espontâneas voltaram a andar.

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A polilaminina começou a ser desenvolvida nos anos 2000, e o registro da patente levou 18 anos. O medicamento é produzido a partir de placentas doadas por mulheres saudáveis acompanhadas durante a gestação.

Um dos motivos para a demora na divulgação dos resultados foi o acompanhamento prolongado dos pacientes. Por sete anos, os pesquisadores monitoraram possíveis efeitos adversos de longo prazo. Até agora, não houve registro de reações graves atribuídas ao medicamento. Eventos como dores de cabeça e infecções foram relacionados às próprias lesões, não à polilaminina.

Apesar disso, especialistas pedem cautela. Os testes realizados até agora envolveram grupos pequenos, sem comparação com um grupo placebo, e os resultados foram apenas parcialmente publicados. Algumas perguntas importantes ainda não têm resposta: quantas doses podem ser aplicadas? Há efeito cumulativo? Os ganhos observados são permanentes?

O Cristália aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a fase 1 de ensaios clínicos, que avalia principalmente a segurança da intervenção em um pequeno grupo de voluntários. 

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Em nota enviada à imprensa, a Anvisa informou que ainda não recebeu o pedido formal para início da etapa e aguarda resultados complementares dos testes pré-clínicos (em animais), uma exigência padrão antes de qualquer aplicação regulatória em humanos.

Hospitais como o das Clínicas e a Santa Casa de São Paulo já estão preparados para iniciar as aplicações quando houver aprovação. A fase 1 pode levar cerca de um ano e meio, e todo o processo regulatório pode se estender por até três anos antes que o medicamento esteja disponível, caso seja aprovado.

As lesões de medula espinhal não são causadas apenas por acidentes de trânsito, quedas ou mergulhos. Também podem resultar de doenças inflamatórias, como a esclerose múltipla, de tumores, de fraturas associadas à osteoporose ou até de compressões na coluna provocadas pelo envelhecimento.

Hoje, não existe terapia capaz de regenerar tecido nervoso de forma eficaz. Se a eficácia da polilaminina for comprovada, o impacto pode ser global. “Nenhum estudo tinha demonstrado isso até o momento. No mundo.”, afirmou o neurocirurgião Marco Aurélio Brás de Lima, que participou da pesquisa, ao Jornal Nacional.

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Ainda que o entusiasmo seja grande, a própria Tatiana prefere manter a prudência. “A todo momento a gente se pergunta se vai se decepcionar. O que me dá segurança é o retorno e a interação com quem está à minha volta e os resultados que estamos vendo”, disse à Folha de S.Paulo.

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