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Biólogos analisam migração de borboletas que cruzam o Saara rumo à Europa

A jornada mais longa já verificada em uma espécie de inseto envolve milhões de borboletas – mas o quórum pode aumentar ou diminuir conforme a vegetação disponível nas savanas e no deserto.

Por Luisa Costa
Atualizado em 25 jun 2021, 18h06 - Publicado em 25 jun 2021, 16h30

Migrações fazem parte do ciclo de vida de várias espécies animais. Grupos grandes se deslocam em determinada época do ano para encontrar alimento ou ambientes de temperatura mais amena, entre outros atrativos. Um exemplo é a borboleta Vanessa cardui – que realiza a maior migração de insetos conhecida nos anos em que as condições climáticas são favoráveis. A espécie passa o verão na Europa, mas quando o clima esfria, cruza os céus do Saara para se abrigar na África.

A quantidade de indivíduos que encaram a viagem – na casa dos milhões – varia bastante: a leva de borboletas de um ano qualquer pode ser até cem vezes maior ou menor que a do ano anterior. E vale dizer que as borboletas se reproduzem no caminho. Uma geração começa a viagem, outra geração chega ao destino.

Em um estudo recente, uma equipe internacional de biólogos investiga o porquê das grandes flutuações no tamanho das ondas migratórias da V. cardui – conhecida também pelos nomes populares bela-dama e vanessa-dos-cardos.

Os pesquisadores combinaram informações de monitoramento de longo prazo com dados atmosféricos e climáticos da faixa migratória da borboleta. Assim, eles descobriram que as três principais variáveis por trás do fenômeno são: 1. O aumento da vegetação na savana africana durante o inverno; 2. o aparecimento de alguma vegetação no norte da África (deserto do Saara) na primavera; 3. Ventos favoráveis ao voo das borboletas em direção à Europa.

Vamos analisá-los um por um. A Vanessa cardui se reproduz principalmente na África subsaariana durante o inverno, onde é bem mais quentinho que na Europa. As lagartas da espécie se alimentam das folhas de plantas que crescem em condições úmidas. Ou seja: quanto mais verdejante ficam as savanas, mais mato sobra para os insetos – e mais bebês borboleta eles conseguem fazer. 

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Com uma grande população, elas começam a migração, cruzando o deserto do Saara durante a primavera local. A estação também promove um cenário mais verde ao norte da África, o que favorece as borboletas. Quanto mais pit stops com vegetação houver no Saara, mais bem-sucedida será a travessia. 

Os cientistas perceberam que elas provavelmente voam sem parar durante o dia e descansam durante a noite, fazendo algumas paradas para se alimentar com néctar.

Por fim, as borboletas só conseguem completar sua viagem multigeracional em direção a Europa com uma ajudinha de ventos favoráveis. Elas voam a uma altitude de 1 a 3 km acima do nível do mar para aproveitar esse empurrãozinho e cruzar o Mar Mediterrâneo numa tacada só, chegando ao continente europeu.

Segundo os cientistas, essas descobertas aumentam a compreensão de como os insetos (sejam eles polinizadores, pragas de colheitas ou vetores de doenças, todos casos que despertam interesse prático das autoridades) podem se espalhar pelas regiões conforme as condições sazonais. Algo importante conforme a Terra passa por mudanças climáticas radicais causadas pela atividade humana. 

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