Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Cientistas vão tentar editar um gene dentro do corpo do paciente

A aposta é curar pessoas com problemas hereditários injetando pequenos "editores de DNA" em seu sangue. E o 1º teste já foi feito

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
16 nov 2017, 12h41

Um exército microscópico de genes saudáveis é injetado no sangue de um paciente com um problema hereditário até então considerado incurável. Esses genes vão acompanhados de um bisturi em escala molecular – uma espécie de cirurgião minúsculo, que vai tirar o pedaço do DNA que veio com defeito de fábrica e substituí-lo por um outro, novinho em folha. Célula por célula, até que um órgão inteiro seja remendado.

Parece Blade Runner. Mas é só ciência do século 21. “Nós abrimos seu DNA, inserimos um gene e costuramos tudo de volta no lugar. É instantâneo, ele se torna parte do material genético e fica lá pelo resto de sua vida”, explicou ao The Guardian Sandy Macrae, presidente da Sangamo Therapeutics – a empresa privada da Califórnia que está testando a terapia pioneira.

O primeiro teste foi feito na última segunda-feira (13) em Oakland, na Califórnia. O paciente é Brian Madeux, de 44 anos, que tem Síndrome de Hunter. A doença metabólica, extremamente rara, impede a produção de uma enzima chamada Iduronato-2-sulfatase (I2S). No mundo, há menos de 10 mil pessoas com o problema – a maior parte delas morre ainda na infância. Os sobreviventes são vítimas frequentes de infecções nos ouvidos e no trato respiratório, e convivem com problemas cardíacos e má-formações nos ossos e nas juntas. Além disso, compartilham traços físicos característicos, como testa e abdômen maiores e nariz achatado. 

 

 

O procedimento é inédito por dois motivos.

O primeiro é que tudo ocorre no interior do corpo, sem intervenção cirúrgica. Há pouco mais de uma semana, um equipe de cientistas e médicos europeus já havia utilizado edição genética para tratar uma doença de pele hereditária antes considerada incurável. Eles pegaram algumas células-tronco da pele de um paciente de 7 anos, corrigiram o erro no DNA, estimularam a reprodução dessas células para criar uma pele nova, de laboratório, e a implantaram o órgão sintético com sucesso na criança. Saiu aqui na SUPER, inclusive. Com Madeux, nada disso será necessário. Ele tomará seus novos genes como se fossem remédio. Se der certo, o efeito se manifestará em no máximo três meses. Os médicos calculam que apenas 1% das células do fígado precisam ser corrigidas para o truque dar certo.

O segundo é que o método de edição não é o já conhecido CRISPR-Cas9 – que nós explicamos mais detalhadamente aqui –, e sim uma ferramenta um pouco diferente, que usa nucleases com dedos de zinco (em tradução livre, o termo não tem uma versão definitiva em português). O nome soa ameaçador, mas a explicação é parecida com a que você já está acostumado: os tais “dedos de zinco” são como tesouras, que cortam fora a parte problemática da molécula de DNA e encaixam uma nova sequência no buraco. O transporte dos genes e dos dedos cirurgiões até o interior das células, onde eles atuarão, é feito por um vírus inócuo – que só faz o delivery, sem causar doenças. É como trocar uma peça do carro, só que em escala microscópica.

Continua após a publicidade

A técnica é segura na teoria, e já funcionou bem em animais. Na prática, é outra história. Afinal, qualquer erro, por mais sutil que seja, pode acabar em uma mutação no ponto errado do DNA – piorando o problema ou causando um câncer. “Quando você enfia um pedaço de DNA aleatoriamente, às vezes dá certo, às vezes não faz nada e às vezes causa danos”, afirmou à AP Hank Greely, especialista em bioética da Universidade de Stanford.

Madeux, porém, está disposto a encarar a tentativa. Hoje, ele precisa tomar semanalmente uma versão sintética da enzima – que, além de custar algo entre 100 mil e 400 mil dólares, não resolve completamente o problema. “Eu estou disposto a correr esse risco. Espero que me ajude e ajude outras pessoas”, declarou o paciente à imprensa. Se tudo der certo nesta tentativa, a Sangamo Therapeutics garante que testes com outros 12 adultos entrarão no calendário. No futuro, a técnica poderá ser usada para curar bebês recém-nascidos antes que a doença se manifeste, por volta do primeiro ano de vida.

 

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.