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Cientistas treinam abelhas para decifrar uma forma simples de código Morse

O novo estudo revela uma habilidade temporal que era atribuída somente a animais vertebrados, e pode ter aplicações até no desenvolvimento de IAs

Por Luiza Lopes
15 nov 2025, 16h00 •
  • Cientistas britânicos demonstraram que abelhas do gênero Bombus conhecidas popularmente como mamangavas ou abelhões são capazes de distinguir durações de estímulos luminosos, algo semelhante a interpretar um código Morse simplificado, e usar essa informação para decidir onde procurar alimento.

    O experimento foi realizado com fêmeas operárias da espécie Bombus terrestris, um tipo de abelha social comum na Europa, e mostrou que mesmo um cérebro menor que uma pulga é capaz de processar o tempo de forma surpreendentemente complexa.

    A pesquisa, conduzida por Alexander Davidson e Elisabetta Versace, da Queen Mary University of London, foi publicada na revista Biology Letters e representa a primeira evidência de que insetos podem tomar decisões baseadas apenas na duração de um estímulo visual uma habilidade que, até então, só havia sido observada em vertebrados como humanos, macacos e pombos.

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    O estudo começou com uma pergunta simples: seria possível que um cérebro tão pequeno conseguisse medir intervalos de tempo de poucos segundos? Em muitos animais, a percepção temporal é essencial para sobreviver: influencia a busca por alimento, o acasalamento e até a fuga de predadores.

    A equipe britânica queria saber se as abelhas, conhecidas por sua organização social e capacidade de navegação, também poderiam medir o tempo de forma consciente. Para testar isso, eles construíram um pequeno labirinto controlado. Nele, as abelhas entravam em uma câmara onde viam duas luzes piscando, uma com um flash curto e outra com um flash longo. 

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    Modelo 3D do aparato experimental.
    Modelo 3D do aparelho utilizado pelos pesquisadores. (Alex Davidson, Queen Mary University of London/Reprodução)

    Em alguns experimentos, os flashes duravam 0,5 e 2,5 segundos; em outros, 1 e 5 segundos. Cada duração estava associada a um tipo de estímulo: um deles levava a uma gota de solução açucarada, a outra a uma substância amarga de quinina, que as abelhas rejeitam. As posições das luzes variavam a cada tentativa, impedindo que os insetos usassem a localização como pista.

    Durante o treinamento, os pesquisadores observaram que os abelhões rapidamente aprendiam qual padrão luminoso indicava a recompensa. Quando atingiam um nível de acerto de 15 escolhas corretas em 20 tentativas, passavam para a fase seguinte – os testes sem nenhuma recompensa disponível. 

    Mesmo sem o açúcar presente, as abelhas continuavam escolhendo o padrão de luz associado à recompensa, o que indicava que haviam realmente aprendido a diferenciar as durações dos flashes, e não apenas se guiado por odores ou outras pistas externas.

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    “Queríamos descobrir se os zangões conseguiam aprender a diferença entre essas diferentes durações, e foi muito emocionante vê-los fazer isso”, afirmou Davidson em comunicado. “Como as abelhas não encontram estímulos luminosos intermitentes em seu ambiente natural, é notável que consigam realizar essa tarefa com sucesso. Isso pode indicar uma extensão de uma capacidade de processamento temporal que evoluiu para outros propósitos, como acompanhar o movimento no espaço ou se comunicar”, explicou.

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    O achado levanta novas questões sobre o funcionamento do cérebro dos insetos. A percepção de tempo em durações curtas (segundos ou frações de segundo) é diferente dos ritmos biológicos mais lentos, como o ciclo circadiano de 24 horas. 

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    Os mecanismos envolvidos nessa “contagem interna” ainda são amplamente desconhecidos, mesmo em animais mais complexos. Teorias recentes sugerem que diferentes escalas de tempo podem ser processadas por circuitos neurais distintos, e que múltiplos “relógios internos” atuam em paralelo. 

    A pesquisadora também apontou que o estudo tem implicações para o campo da inteligência artificial, ao revelar como cérebros pequenos podem executar tarefas sofisticadas com poucos recursos – poderia ser possível, por exemplo, usá-los de modelo para conseguir pistas úteis para a construção de redes neurais artificiais mais eficientes.

    A equipe agora pretende investigar quais áreas do cérebro das abelhas estão envolvidas nesse tipo de processamento e se outras espécies de insetos compartilham o mesmo tipo de percepção. 

    “Será importante usar uma abordagem comparativa ampla entre diferentes espécies, incluindo insetos, para elucidar a evolução dessas habilidades. A duração do processamento em insetos é uma evidência de uma solução de tarefa complexa usando um substrato neural mínimo”, acrescentou. 

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