Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Cientistas recriam o DNA de homem morto há 200 anos

Hans Jonatan foi o 1º negro a pisar na Islândia. Seu DNA se destaca tanto na população que foi possível remontá-lo usando os genes de seus descendentes

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 jan 2018, 18h55

Não chega a ser uma versão humana de Jurassic Park, mas está quase lá. O DNA de um homem que morreu na Islândia em 1827 foi parcialmente recriado em laboratório a partir dos genes “disponíveis” em 182 de seus descendentes. O escolhido para voltar à vida, ainda que em escala molecular, é um ícone local, que tem até artigo na Wikipedia: Hans Jonatan, que em 1802 se tornou a primeira pessoa negra a pôr os pés na ilha gelada.  

A escolha não foi feita só pela importância histórica do fato, mas porque os genes de Jonatan, de tão raros na população do país, são fáceis de rastrear. A Islândia é um parque de diversões para quem estuda genética: foi colonizada há pouco mais de mil anos por pouquíssimas famílias de origem nórdica, e há um registro preciso de todas as árvores genealógicas desde então. Além disso, um banco de dados criado pela empresa deCODE contém os DNAs de 150 mil cidadãos – metade do total de habitantes. Isso torna possível rastrear com segurança o caminho de praticamente qualquer gene com o passar dos anos – uma tarefa que seria bem mais difícil em um lugar como o Brasil, em que há 200 milhões de pessoas e dezenas de etnias misturadas.

Jonatan nasceu no Caribe, filho de uma escrava africana com um capataz nascido na Dinamarca. Serviu a marinha do país europeu durante as guerras napoleônicas, e pensou que seria libertado após o fim do conflito – além da escravidão ser proibida em território dinamarquês, seus serviços foram reconhecidos pelos superiores. Não foi tão simples: o juiz responsável por seu caso não concedeu a alforria, e ele foi obrigado a fugir para a Islândia. Os registros históricos, a partir daqui, são incertos, mas tudo indica que ele foi bem recebido na ilha, e logo conseguiu emprego como assistente de um cartógrafo.   

Ele se casou com uma nativa, chamada Katrín Antoníusdóttir, e hoje, mais de cinco gerações depois, o casal acumula 788 descendentes. Os pesquisadores da deCODE encontraram o DNA de 182 deles no banco de dados da empresa, e, isolando os genes de origem africana presentes na amostra, conseguiram deduzir 38% do código genético da mãe de Jonatan. O processo é descrito detalhadamente em um artigo científico, publicado na Nature.

Esse é um detalhe essencial: metade dos genes de Jonatan, herdados de seu pai, eram europeus, e são mais difíceis de isolar da população. Sua mãe – que, ao que tudo indica, nasceu no atual território de Benin – é a única pessoa de origem exclusivamente africana envolvida no caso. Os genes que indicam ancestralidade negra, portanto, só podem ser atribuídos com segurança a ela. Como todo bebê herda metade de seus genes de cada membro do casal, encontrar 38% do genoma da mãe é o mesmo que encontrar 19% do genoma de Jonatan.

Em teoria, afirmam especialistas, seria possível usar o método para reconstruir o DNA de qualquer pessoa, célebre ou não. Basta que ela tenha herdado a seus descendentes genes que se destaquem em um determinado grupo – uma tarefa não tão fácil. 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.