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Cientistas ensinam ratos a dirigir

Roedores aprenderam a pilotar carrinhos em troca de recompensas; e adoraram a experiência

Por A. J. Oliveira
23 out 2019, 16h33

Não, você não leu errado: pela primeira vez, ratos aprenderam a dirigir automóveis. Carros adaptados ao tamanho deles, é claro. Pesquisadores da Universidade de Richmond, em Virgínia, nos Estados Unidos, desenvolveram veículos especiais feitos sob medida para ensinar os bichinhos a pilotá-los. Basicamente, são pequenas embalagens plásticas sobre rodas. Todo o treinamento não apenas deu certo — ele revelou resultados surpreendentes.

Participaram do estudo um total de 17 ratinhos: 11 machos e seis fêmeas. Os animais eram colocados em pequenas arenas retangulares de quatro metros quadrados e estimulados a mover o carro em distâncias cada vez maiores. Sempre que andavam para frente, recebiam como recompensa uma bolinha de sucrilho. 

Além de darem conta de coisas mais banais como achar o caminho dentro de um labirinto, reconhecer objetos e pressionar barras, agora sabemos que os ratos também se viram bem com desafios mais sofisticados. “Eles aprenderam a navegar o carro de formas únicas e se engajaram em padrões de direção que nunca tinham usado para chegar à recompensa”, disse à New Scientist a neurocientista Kelly Lambert, idealizadora do experimento.

Isso mostra que o cérebro desses animais é mais flexível do que se pensava e também abre portas para diversas linhas de pesquisa sobre o aprendizado e as funções cognitivas. É tentador imaginar os bichinhos pilotando um carro como o nosso: com suas mãozinhas no volante e patinhas nos pedais para acelerar e frear. Mas, por motivos óbvios, o veículo não tinha nada disso. Para que funcionasse, sua configuração devia ser mais simples e intuitiva.

A solução foi usar uma placa de alumínio como chassi e três barrinhas de cobre como a direção. Ao subir em seu automóvel de plástico e colocar as patinhas nas barras, o roedor acionava um circuito elétrico que empurrava a máquina para frente. Cada um dos bastões (da esquerda, do centro e da direita) virava o carrinho em uma direção diferente. E sabe da maior? Os ratos deram toda a pinta de que estavam curtindo bastante tudo aquilo.

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Os cientistas mediram a quantidade de dois hormônios vinculados ao stress nas fezes dos animais que passavam pelas aulinhas de direção. Notaram que, conforme o treinamento ia avançando, os pequenos mamíferos se mostravam menos estressados e mais relaxados. Lambert acredita que, assim como nós, os ratos também sentem aquela mesma sensação gratificante que sentimos quando dominamos uma nova habilidade complicada.

Essa pesquisa, publicada na última quarta (16) no Behavioural Brain Research, deixou claro que os roedores esbanjam a chamada “neuroplasticidade” — seus cérebros se adaptam e respondem bem a novos desafios. “Eu acredito que os ratos são mais inteligentes do que muitas pessoas os percebem, e que a maioria dos animais são mais espertos do que pensamos de jeitos únicos”, disse Lambert. A ideia agora é aprofundar esses estudos.

O time de Richmond planeja desenvolver novos experimentos em sua autoescola para roedores para entender como exatamente eles aprendem a dirigir, por que isso os relaxa e quais áreas do cérebro participam do processo. Eventualmente, podem render insights até mesmo para condições neurológicas humanas. Vida longa aos ratinhos motoristas.

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