Cacatuas reconhecem a ferramenta certa para realizar uma tarefa
Os pássaros ainda percebem que precisarão das ferramentas em um futuro próximo. Apenas humanos e chimpanzés seriam capazes de fazer o mesmo. Assista ao experimento.
Sabe aquela história de “cérebro de passarinho”? Pode esquecer: eles são mais inteligentes do que você pensa. Veja só os membros da família Corvidae: gaios escondem sua comida para recuperá-la mais tarde e podem fingir que usam esconderijos diferentes para confundir um pássaro que esteja por perto. Os corvos, por sua vez, lembram que foram enganados até meses depois e preferem abrir mão de uma recompensa para esperar algo melhor.
Mas as mentes brilhantes, entre bicos e penas, não são exclusivas desta família. As cacatuas, por exemplo, podem selecionar ferramentas de acordo com as tarefas que esperam enfrentar. A descoberta é de um estudo publicado nesta sexta-feira (10) na revista científica Current Biology e coloca estes pássaros num grupo bastante seleto: até onde se tem notícia, apenas humanos e chimpanzés têm essa habilidade.
Em 2021, a pesquisadora Alice Auersperg, da Universidade de Viena (Áustria), e seus colegas observaram cacatuas da espécie Cacatua goffiniana usando seus bicos para construir três ferramentas de madeira. Elas funcionavam como um conjunto de talheres para os pássaros, que as utilizavam para abrir frutas tropicais. Na ocasião, uma dúvida ficou no ar: as cacatuas viam mesmo os objetos como um conjunto de ferramentas, cada uma com um propósito diferente?
Para investigar isso, Alice juntou-se a Antonio Osuna-Mascaró, outro biólogo da Universidade de Viena. A parceria fazia sentido porque Antonio já estudou a habilidade em chimpanzés, que usam duas ferramentas para alcançar cupins: primeiro, um graveto curto e duro para fazer um buraco no cupinzeiro; depois, um longo e flexível para pegar os insetos. Os cientistas, então, se basearam nos experimentos com chimpanzés para planejar o estudo com as cacatuas.
Eles colocaram dez cacatuas que vivem em cativeiro para tentar retirar uma castanha de caju de uma caixa de acrílico transparente. Havia duas ferramentas à disposição dos pássaros: um palito de madeira, curto e afiado, e uma vareta de plástico, longa e flexível. A solução do quebra-cabeça era a seguinte: as cacatuas deviam usar o palito para rasgar uma membrana de papel que bloqueava o acesso à castanha; depois, enfiar a vareta no buraco para alcançar a guloseima dentro da caixa.
No primeiro experimento, a castanha estava dentro de uma caixa de acrílico. Para alcançá-la, as cacatuas deviam rasgar uma membrana de papel que servia de obstáculo. Seis das dez cacatuas descobriram o que deveriam fazer para conquistar suas castanhas. Destas, duas se destacaram pela velocidade em resolver a situação: uma cacatua chamada Figaro, que descobriu em 31 segundos, e outra, Fini, em 34 segundos.
Os pesquisadores também conduziram experimentos alternativos, que você pode conferir no vídeo acima. Em um deles, a caixa não tinha uma membrana de papel, na qual as cacatuas deveriam fazer um buraco para alcançar a castanha. A guloseima estava lá dentro, e os pássaros só precisavam usar a vareta longa para pescá-la. Eles geralmente entenderam que era uma situação diferente, e identificaram a ferramenta necessária.
No terceiro e último experimento, a equipe deixou a caixa distante das ferramentas. As cacatuas, então, tinham que escolher as ferramentas necessárias para alcançar as castanhas antes de subirem uma escada ou voar até a caixa. Elas também passaram no teste – ou seja, puderam reconhecer que precisariam das ferramentas em um futuro próximo.
Agora, a equipe pretende investigar se as cacatuas podem fazer isso mesmo quando a caixa não está à vista e estudar a história evolutiva do uso de ferramentas na espécie. Outros pesquisadores afirmam que outros pássaros devem ser capazes de fazer o mesmo – só falta estudá-los.