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Bebê mumificado pode ter morrido por falta de sol

Criança austríaca, que teria vivido no século 16 ou 17, teria sofrido uma forte deficiência nos níveis de vitamina D - causada pela ausência de exposição aos raios solares

Por Leo Caparroz
Atualizado em 28 out 2022, 07h48 - Publicado em 27 out 2022, 18h36

Foi encontrado, escondido na cripta de uma antiga família austríaca, o cadáver mumificado de um menino que morreu com um ou dois anos de idade. Enrolado em uma fina roupa de seda, foi enterrado na cripta dos Condes de Starhemberg, provavelmente em meados dos séculos 16 ou 17. Seu caixão era o único sem inscrição de nome, e também o único com tamanho para bebês.

O que torna esse menino especial para a ciência é que ele não morreu por falta de comida ou algum machucado. Mas sim pela simples falta de luz solar.

Para chegar ao motivo de sua morte, pesquisadores conduziram uma autópsia virtual do cadáver usando tomografia computadorizada. O procedimento revelou malformações nas costelas que apontavam para sinais de desnutrição – mais especificamente, deficiência de vitamina D. 

A falta desse tipo de vitamina aumenta as chances de desenvolver doenças ósseas, como raquitismo e osteoporose. Contudo, analisando os ossos do garoto, os cientistas perceberam que eles não apresentavam algumas malformações características dessas condições – como os ossos das pernas arqueados.

Os pesquisadores, então, partiram para uma segunda possibilidade – baixas quantidades de vitamina C, que resultariam em escorbuto (uma doença muito comum entre marinheiros das grandes navegações).

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A análise da camada de gordura revelou que a criança estava acima do peso para sua idade, se comparada às outras da época. Assim, os pesquisadores inferiram que a criança foi bem alimentada em sua vida, tornando a deficiência de vitamina C menos provável.

Diferente da C, a fonte principal de vitamina D não é a nossa alimentação, mas sim, a produção que ocorre na pele, graças à reações químicas com a radiação ultravioleta (UV). Uma nova hipótese sugeria que a criança estava desnutrida não pela falta de comida, mas pela falta de luz solar. A vitamina é essencial na formação dos ossos durante a infância, o que explicaria as anormalidades.

“A combinação da obesidade com uma deficiência severa de vitaminas só pode ser explicada por um estado nutricional geralmente ‘bom’, juntamente com uma quase completa falta de exposição à luz solar”, explica o patologista Andreas Nerlich, da Universidade de Munique e primeiro autor do estudo.

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Uma análise dos pulmões do menino também revelou sinais de pneumonia, uma infecção comum em bebês que apresentavam deficiência de vitamina D. A descoberta provê uma visão interessante sobre as condições de vida de bebês da nobreza na época. Inclusive, a boa preservação do corpo se deve provavelmente ao seu alto nível de gordura corporal.

“Não temos informações sobre o destino de outras crianças da família”, afirma Nerlich. “De acordo com nossos dados, o bebê era provavelmente o primogênito do conde, então cuidados especiais podem ter sido aplicados”, o que explicaria o pano de seda em que foi enterrado. Seu nome provavelmente era Reichard, de acordo com as análises dos pesquisadores da árvore genealógica da família.

O estudo foi publicado no periódico Frontiers.

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