Baleias-jubarte criaram uma ferramenta inusitada para caçar: bolhas
Segundo pesquisadores, bolsões de ar soprados para confundir e capturar presas devem ser considerados equivalentes às pontas de lança pré-históricas do sapiens.
Fun fact: as jubartes sopram bolhas enormes dentro da água. E não é por brincadeira – essa é uma técnica de caça.
Uma equipe de pesquisadoras monitorou esses cetáceos no Alasca por meio de filmagens com drones e também com câmeras e sensores presos com ventosas nas próprias baleias.
Com as imagens, foi possível observar que as baleias ajustam o tamanho dos pacotões de ar e guiam as bolhas para confundir as presas e capturar o máximo de alimento possível.
Os resultados da análise, segundo o estudo publicado na semana passada em um periódico especializado da Royal Society, colocam esses mamíferos marinhos gigantes no seleto grupo de animais que usam ferramentas para caçar.
“Essas baleias sopram bolhas habilmente em padrões que formam redes com anéis internos, controlando ativamente detalhes como o número de anéis, o tamanho e a profundidade da rede e o espaçamento entre as bolhas.”
“Esse método permite que elas capturem até sete vezes mais presas em um único mergulho de alimentação sem usar energia extra.”, explica o biólogo marinho Lars Bejder, coautor do estudo, em comunicado.
O principal objetivo é capturar grandes quantidades um tipo de invertebrado pequenininho chamado krill. A jubarte nada em parafuso, da superfície em direção ao fundo, dando voltas em torno de um cardume de krills e soprando bolhas enquanto isso.
Com isso, ela forma bolhas enormes e cilíndricas – um paredão de ar que impede que as presas fujam. Depois, é só a baleia nadar de baixo para cima verticalmente, com a enorme boca aberta.
Uma das partes mais interessantes é que esse comportamento não é inato: nem todas as jubarte caçam assim, e mesmo entre as que caçam, há variações na técnica a depender do grupo. Elas aprendem umas com as outras, e podem até mesmo fazer a armadilha de forma colaborativa, para ninguém ficar sem lanche.
Os sensores e câmeras dos pesquisadores permitiram estudar a forma, o tamanho e a distância entre as bolhas e analisar os efeitos que esses parâmetros têm sobre a taxa de ingestão de presas.
Também foi possível entender qual o custo energético da construção de uma rede de bolhas, e como elas impactam a respiração. Os resultados sugerem que as redes de bolhas maximizam a quantidade de presas que a baleia pode capturar e comer, sem nenhum custo adicional de energia.
Para os pesquisadores, fica claro que a estratégia funciona como uma ferramenta, que é não só usada, mas criada e apropriada individualmente por cada baleia. “Vários animais usam ferramentas para ajudá-los a encontrar alimentos, mas muito poucos realmente criam ou modificam essas ferramentas por conta própria”, diz Bejder.
Entender os comportamentos de caça e alimentação das jubartes é essencial para garantir a preservação da espécie. Elas já estiveram sob grande ameaça de extinção, que foi revertida após a proibição da caça da espécie para fins comerciais em 1976.
Atualmente, existem cerca de 84 mil baleias-jubarte adultas no mundo, e o estado de conservação da espécie é considerado de “menor preocupação”. Mesmo assim, um estudo recente mostra que o número de espécimes caiu cerca de 20% entre 2012 e 2021, com um dos fatores envolvidos sendo o aumento da temperatura dos oceanos.
“O que eu acho empolgante é que as jubartes criaram ferramentas complexas que lhes permitem explorar agregações de presas que, de outra forma, não estariam disponíveis para elas”, diz o biólogo marinho Andy Szabo, coautor do estudo, em comunicado.
“É essa flexibilidade comportamental e engenhosidade que espero que sirva bem a essas baleias à medida que nossos oceanos continuarem a mudar.”