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Baleias compõem músicas inspiradas em outras baleias

Estudo revela que machos de jubarte são capazes de criar e executar suas próprias melodias - e incorporar trechos musicais inventados por outras baleias

Por A. J. Oliveira
9 jan 2019, 18h17

Se todas as criaturas cantantes do reino animal se reunissem em um grande karaokê da vida terrestre, é bem provável que a baleia jubarte fosse a estrela da noite. Os machos da espécie são particularmente apaixonados por uma boa cantoria: soltam a voz como verdadeiros tenores dos sete mares. Quando resolvem entoar uma “música”, ou melhor, um ciclo sonoro, ele pode se estender por horas ou até por dias a fio. Cientistas descobriram que a vida musical das jubarte é ainda mais exuberante do que se pensava.

Em uma nova pesquisa publicada no periódico Royal Society Open Science, estudiosos da Wildlife Conservation Society (WCS) demonstraram que as populações dos oceanos Atlântico Sul e Índico incorporam novas frases e temas compostos pelos indivíduos do outro grupo de maneira sutil e complexa. Até então, pensava-se que essa interação cultural resultasse em mudanças mais bruscas, com a canção “estrangeira” substituindo por completo a preferência musical da comunidade local.

O indício de que não é bem assim surgiu após uma vasta análise de gravações de mais de 1,5 mil jubartes em ambas as costas do continente africano, próximas do litoral do Gabão e de Madagascar. Os áudios foram registrados entre os anos de 2001 e 2005 e a similaridade sonora entre os grupos foi quantificada com a ajuda de modelos estatísticos. Os resultados sugerem que, em algum momento do ano, os machos de ambas as populações se encontram para conhecer e aprender as novas músicas uns dos outros, como num festival.

As canções das baleias são diferentes das nossas, mas também têm sua sofisticação. Os animais se expressam através de “unidades sonoras”: gemidos, gritos e outras formas peculiares de vocalização. Encadeando essas unidades, elas formam frases, que são repetidas para criar “temas”. Estes são colocados em sequência, e então chegamos no ciclo sonoro completo.

Na sinfonia dos machos de uma mesma população, os indivíduos costumam cantar o mesmo tipo de música, com uma variação aqui, outra ali. Mas a evolução ocorre de maneira contínua, e às vezes todos os espécimes cantam em uníssono, um pouco como nós fazemos com o hit do verão. A avaliação cuidadosa dos cientistas revelou insights interessantes. Além de frases e temas eventualmente compartilhados entre os dois grupos, alguns anos apresentaram mais similaridades do que outros.

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Em 2003, as baleias do Gabão estavam um pouco mais eruditas que as de Madagascar, tendo apostado em composições mais elaboradas. No ano seguinte, as paradas musicais interoceânicas tornaram-se mais semelhantes, com temas compartilhados — as jubartes gabonesas cantavam três temas extras. Um fato interessante foi que os grupos descartaram os mesmos dois temas que foram cantados no ano anterior. Já em 2005, os indivíduos dos dois locais estavam na mesma vibe, cantando os temas em sintonia.

A única exceção foi uma baleia nostálgica, que aparentemente não havia se cansado dos dois temas do ano anterior e se ateve a eles. Segundo os cientistas, estudos como esse são importantes para entender melhor a interação entre as populações de baleias, para assim traçar planos mais eficazes de conservação. E, obviamente, ficamos imaginando se toda essa cantoria tem algum significado. Por acaso alguém aí fala baleiês?

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