Não é nenhum exagero dizer que tentar caçar em meio a 400 mil estrelas um mundo com as mesmas características que o nosso é como procurar uma agulha em um palheiro. Pois a equipe científica por trás da sonda TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), da Nasa, está comprometida em encontrar não apenas um exoplaneta parecido com a Terra — mas 50. Para ter alguma perspectiva de sucesso, é preciso saber onde procurar. E é exatamente isso que um grupo de pesquisadores norte-americanos acaba de fazer.Astrônomos de três universidades, Cornell, Lehigh e Vanderbilt, identificaram os alvos mais promissores que merecem atenção especial ao longo das investigações da TESS. Eles compilaram um catálogo detalhando quais das centenas de milhares de estrelas estudadas apresentam as melhores chances de abrigar um planeta como o nosso. Ao todo, foram identificadas 1.822 estrelas nas quais a sonda é sensível o bastante para localizar um mundo um pouco maior que a Terra, que receba níveis semelhantes de irradiação solar.Em 408 delas, a missão será capaz de encontrar um eventual exoplaneta com as mesmas dimensões terrestres em um único trânsito — a TESS encontra mundos distantes quando eles passam em frente à estrela e bloqueiam temporariamente parte de seu brilho. Apontando para esses sóis, a sonda pode encontrar candidatos planetários na zona habitável, onde água líquida pode existir na superfície."A vida pode existir em qualquer tipo de mundo, mas o tipo que sabemos poder abrigar vida é o nosso, então faz sentido primeiramente procurar planetas como a Terra", explica a astrônoma Lisa Kaltenegger, autora principal do artigo publicado no periódico Astrophysical Journal Letters e diretora do Instituto Carl Sagan de Cornell. "Esse catálogo é importante para a TESS porque qualquer um trabalhando com os dados quer saber ao redor de quais estrelas nós podemos achar os mais semelhantes análogos à Terra."A missão da Nasa coordenada pelo MIT foi lançada em abril de 2018 e começou suas operações científicas em julho do mesmo ano. Ela pegou o bastão do Kepler, telescópio caçador de exoplanetas agora aposentado. O catálogo afunila ainda mais as possibilidades mais promissoras para a TESS: em 227 estrelas, é possível não apenas encontrar mundos que recebem a mesma quantidade de luz solar que a Terra, mas sim cobrir toda a zona habitável. Isso inclui planetas mais limítrofes e gelados em órbitas como a de Marte.O melhor é que a TESS não estará sozinha. Telescópios poderosos, espaciais e de solo, serão capazes de fazer observações mais detalhadas em alvos interessantes revelados pela sonda. Das estrelas do catálogo, 137 estão na zona de monitoramento contínuo do telescópio James Webb — o sucessor do Hubble está em construção e deve ser lançado nos próximos anos para investigar as atmosferas dos exoplanetas e procurar por sinais de vida. Com um time desses, nossas chances de encontrar ETs nunca foram tão boas.