Astrônomos detectam sinal de rádio inédito vindo de um exoplaneta
E isso não tem nada a ver com vida alienígena. As ondas indicam a existência de um campo magnético no planeta, que se encontra a 51 anos-luz da Terra.
Estudar planetas fora do Sistema Solar é um desafio. Eles são pequenos demais e refletem muito pouca luz para serem observados diretamente com instrumentos astronômicos de uma distância tão grande.
Por isso, a maioria dos exoplanetas (planetas que giram em torno de outras estrelas que não o Sol) foi encontrada por meio de indícios indiretos – como, por exemplo, uma ligeira queda no brilho das estrelas que os hospedam quando eles passam na frente delas.
Agora, uma equipe internacional de astrônomos detectou o que pode ser a primeira emissão de rádio vindo de um exoplaneta. O sinal vem do sistema Tau Boötes, a 51 anos-luz da Terra. Ele é binário – ou seja, possui duas estrelas, como no Tatooine de Star Wars –, e é conhecido desde 1996.
As características (como força e polaridade) do sinal de rádio coincidem com a modelagem teórica o campo magnético do planeta. Ou seja: nada de extraterrestres. A emissão é resultado da interação entre as partículas carregadas emitidas pelas estrelas e os pólos magnéticos do planeta. O vídeo abaixo mostra como essas ondas são percebidas aqui da Terra:
Os ventos solares (que, neste caso, não são solares, pois vêm de outras estrelas) são chuveiros de partículas com carga elétrica expelidas na direção do planeta. O campo magnético desse mundo extraerrestre desvia a trajetória e altera a velocidade dessas partículas, e dessa interação resulta uma emissão de ondas eletromagnéticas na frequência correspondente ao rádio.
Ondas similares são emitidas pela Terra e por outros planetas do Sistema Solar naturalmente, pelo mesmo motivo.
A informação mais importante que os sinais de rádio trazem é justamente a existência de um campo magnético. Os campos são gerados pela dinâmica dos materiais em pressões e temperaturas altíssimas que compõem o miolo dos planetas. Os sinais de rádio provenientes de Júpiter, por exemplo, permitem inferir a presença de hidrogênio metálico (uma forma bastante estranha no elemento, que não existe na Terra) em seu interior.
A presença de um campo magnético também é um ponto a favor da habitabilidade do planeta. Ele funciona como um escudo, repelindo ventos solares e raios cósmicos nocivos para a vida na superfície – caso haja vida, é claro. Ele também evita que a atmosfera perca gás demais para o espaço.
Os pesquisadores só conseguiram encontrar esse exoplaneta graças a um projeto que começou dois anos atrás. Eles analisaram as emissões de rádio de Júpiter para estimar como elas seriam se viessem de um planeta fora do Sistema Solar, entre 40 e 100 anos-luz de distância da Terra. Após mais de 100 horas de observações em busca de algo equivalente, eles finalmente encontraram o padrão esperado em Tau Boötes.
Usando um radiotelescópio localizado na Holanda, a equipe também procurou ondas de rádio em outros dois sistemas que possuem exoplanetas conhecidos: 55 Cancri e Upsilon Andromedae. No entanto, eles não apresentaram dados significativos.
A detecção ainda precisa ser confirmada por outros telescópios e centros de pesquisa, mas pode representar um novo método de estudo de exoplanetas. “Esse conhecimento pode fornecer informações sobre a estrutura no interior do planeta, atmosfera e habitabilidade”, escrevem os autores. O estudo foi publicado no periódico Astronomy and Astrophysics.