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Apollo 8: a primeira visita de seres humanos às imediações da Lua

Ela foi a missão mais corajosa e arriscada de todo o Projeto Apollo – e nasceu de um atraso.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 21 dez 2022, 10h53 - Publicado em 16 jul 2019, 17h11

 

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A missão Apollo 8 foi primeira viagem de seres humanos para fora do poço gravitacional de seu planeta de origem, rumo a seu único satélite natural. E nasceu parida de um atraso.

Em setembro de 1967, na esteira da tragédia da Apollo 1, os gerentes do programa lunar formataram uma sequência de missões até o pouso, designadas por letras. Eram elas:

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A   Voo não tripulado do módulo de comando e serviço (CSM) com o Saturn V.
B   Voo não tripulado do módulo lunar (LM) na órbita baixa da Terra.
C   Voo tripulado do CSM na órbita baixa da Terra.

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D   Voo tripulado conjunto do CSM e do LM em órbita baixa da Terra.
E   Voo tripulado do CSM e do LM simulando uma missão lunar a uma órbita média de 6.500 km de altitude.
F   Voo tripulado do CSM e do LM até a Lua, demonstrando a técnica de encontro em órbita lunar.

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G   Primeiro pouso tripulado na Lua.

As missões Apollo 4 e 6 cumpriram o objetivo A, e a Apollo 5 deu conta do objetivo B. A meta C veio com a Apollo 7 e, em princípio, a Apollo 8 seguiria o roteiro do objetivo D. Só que o módulo lunar não estava pronto; o veículo ainda enfrentava problemas de desenvolvimento.

Como a necessidade faz a invenção, os gerentes pensaram fora da caixinha – e se a Apollo 8 fosse só com o módulo de comando e serviço até a órbita da Lua? Em agosto eles revisaram a sequência, criando a missão C’ (C-linha), a ser executada pela Apollo 8. Além de ser espetacular por si mesma – a primeira viagem humana até os arredores da Lua –, ela tornava a antiga missão E supérflua, permitindo manter o cronograma mais ou menos no lugar.

Se em agosto parecia a coisa certa a fazer, imagine em setembro, quando a União Soviética lançou uma cápsula L-1 (missão Zond 5) com duas tartarugas e outros bichinhos a bordo, numa missão circunlunar que retornou à Terra, sã e salva? Os sistemas da Apollo eram bem mais sofisticados, mas num jogo que era tanto de aparências quanto de realizações, teria sido um golpe e tanto se os primeiros humanos a contornar a Lua fossem soviéticos.

Para os americanos, a missão Apollo 8 seria a definitiva volta por cima. Mas os riscos não eram poucos. Era o primeiro voo tripulado com um foguete Saturn V. E havia um detalhe ainda mais perturbador: dos dois únicos testes não tripulados realizados, o lançador apresentou problemas consideráveis no segundo – e exatamente ao fazer a manobra que teria de ser conduzida agora, com tripulação. Wernher von Braun, chefe da equipe responsável pelo foguete, assegurou aos gerentes que os problemas enfrentados na Apollo 6 haviam sido todos corrigidos e que o veículo estava pronto.

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No dia 21 de dezembro de 1968, o comandante Frank F. Borman II e seus colegas, James A. Lovell Jr. e William A. Anders, partiriam da plataforma 39A do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, naquela que seria a primeira viagem tripulada ao redor da Lua. Como prometido por Von Braun, o foguete funcionou perfeitamente, e o trio usou o motor do módulo de comando e serviço para entrar em órbita da Lua no dia 24 de dezembro de 1968. Lá, eles foram os primeiros seres humanos a observar – e registrar – o nascer da Terra visto das imediações lunares.

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Jim Lovell, William Anders e Frank Borman em treinamento. (Divulgação/NASA)
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Em órbita lunar, os astronautas transmitiram suas impressões do que podiam ver do solo. E, na véspera de Natal, eles leram para seus espectadores os dez primeiros versículos do Livro do Gênesis, da Bíblia. E concluíram: “Da tripulação da Apollo 8, fechamos com boa noite, boa sorte, um feliz Natal e Deus os abençoe – todos vocês na boa Terra.” Foi a maior audiência televisiva da história na época – transmissão ao vivo para 64 países. Outros 30 também exibiram, mas numa veiculação atrasada, no mesmo dia.

Para os astronautas, contudo, ainda havia um drama a ser vivido: o motor do módulo de comando e serviço teria de disparar corretamente para colocá-los no caminho de volta à Terra. Se não funcionasse, eles ficariam presos na órbita da Lua para sempre. Felizmente, deu tudo certo, e a Apollo 8 fez um pouso suave no Pacífico no dia 27 de dezembro.

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