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Antiga prática maia pode ser chave para cultivo de vegetais em Marte

A técnica conhecida como interplantação tem potencial para otimizar o cultivo no Planeta Vermelho, e também é uma alternativa sustentável aqui na Terra.

Por Caio César Pereira
11 Maio 2024, 19h00

O personagem de Matt Damon no filme de ficção científica Perdido em Marte sobrevive a uma estadia de quatro anos no Planeta Vermelho plantando e comendo batatas.

Para que futuras missões tripuladas ao nosso vizinho planetário deem certo, os astronautas precisarão obter comida de maneira parecida. E parece que a melhor forma de cultivar algo por lá é uma técnica que foi muito aperfeiçoada pelos maias.

Chamada de interplantação, ela consiste em posicionar várias espécies diferentes próximas umas das outras. É o oposto da monocultura em escala, em que só um tipo de planta é cultivado em um imenso terreno.

Acontece que não dá para sair por aí misturando alhos com bugalhos. A escolha dos vegetais que farão companhia um para outro importa. É preciso levar em consideração a maneira como as raízes vão interagir, os nutrientes de que cada espécie necessita, o consumo de luz solar para fotossíntese etc. Vários povos na Antiguidade realizavam alguma forma de interplantação.

Agora, pesquisadores da Universidade Wageningen, nos Países Baixos, decidiram estudar a possibilidade de intercultura no solo marciano com três tipos diferentes de vegetais: ervilhas, cenouras e tomates.

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Como ainda não é possível realizar esse tipo de estudo com amostras reais do solo do planeta vermelho, os pesquisadores criaram, em laboratório, uma estufa com condições similares às que imaginamos encontrar em Marte.

Para simular a composição da superfície marciana (coberto com uma camada solta de material em pó chamado regolito), o pessoal da Holanda misturarou rochas, poeira e areia. Para ter uma base de comparação, eles também simularam outros tipos de solo, enchendo alguns vasos com areia de rio e outros com terra de plantio padrão. Então, plantaram as ervilhas, cenouras e tomates várias vezes em cada tipo de solo, alternando interplantação e monocultura. 

Ao todo, foram testadas doze combinações diferentes de solo e cultivo, com cinco vasos para cada uma delea. Após um período de 105 dias, eles coletaram os vegetais e analisaram seu o valor nutricional.

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Os resultados, publicados na revista PLOS One, mostraram que, de forma geral, os tomates tiveram um melhor rendimento, uma maior biomassa e com uma quantidade maior de potássio quando foram cultivados junto com as cenouras e as ervilhas no solo simulado marciano.

Porém, enquanto as ervilhas não apresentaram diferenças significativas entre a monocultura e a interplantação, as cenouras acabaram não tendo um bom rendimento quando plantadas junto com os outros dois vegetais, apresentando uma biomassa menor.

Para Wieger Wamelink, pesquisador da Wageningen e um dos autores do estudo, esse é um exemplo de como a escolha do que cultivar na interplantação é algo extremamente relevante.

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“É muito importante como você seleciona as espécies de culturas que combinam, porque o tomate se beneficiou das ervilhas, mas a cenoura certamente não. Isso provavelmente foi devido à falta de luz. As altas plantas de tomate e ervilha superaram a cenoura e tiraram a luz dela”, conta em entrevista à Reuters.

Essa técnica tem potencial não só para otimizar o cultivo de culturas em Marte, mas também como uma alternativa sustentável para plantações aqui na Terra.

“Se conseguirmos desvendar o segredo para regenerar solos pobres enquanto desenvolvemos um sistema de produção de alimentos de alto rendimento e autossustentável, exatamente o objetivo da pesquisa agrícola marciana, teremos encontrado uma solução para muitos dos problemas que estamos enfrentando aqui na Terra também,” explica a Popular Science, Rebecca Gonçalves, astrobióloga da Universidade e Pesquisa de Wageningen e coautora do estudo.

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