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Anã branca ficou com uma “cicatriz metálica” após comer planeta

Durante seu processo de envelhecimento e colapso, as estrelas podem acumular matéria de outros corpos celestes próximos, um fenômeno conhecido como acreção.

Por Caio César Pereira
27 fev 2024, 19h04

Utilizando o telescópio VLT (Very Large Telescope) do Observatório Europeu do Sul, localizado no Chile, pesquisadores da University College de Londres conseguiram encontrar uma estrela anã branca com um traço único. Diferente das outras estrelas do tipo, essa possui uma espécie de cicatriz metálica na sua superfície.

O que são anãs brancas?

Tipicamente, as anãs brancas são estrelas em seu estágio final, depois que já queimaram todo o seu combustível nuclear. Quando estrelas de massas médias ou baixas fundem todo o seu hidrogênio em hélio, a pressão do calor gerado e a gravidade fazem com que a estrela entre em colapso.

Mas uma estrela dessas não possui massa o suficiente para formar uma supernova (isso só rola com 10% das estrelas). Então, sua parte mais externa se torna uma estrela do tipo gigante vermelha. Grande em volume, mas com pouca massa e menos luminosa. 

Como todo o seu hidrogênio já foi quase todo queimado, a gigante vermelha também entra em colapso, e com o tempo, se transforma numa grande nuvem difusa chamada de nebulosa planetária. Já o núcleo compacto e frio é o que chamamos de anã branca

Elas são bastante densas. Apesar de possuírem uma massa similar a do Sol, possuem um tamanho parecido com o da Terra. Seu núcleo é composto principalmente de carbono e oxigênio, e o termo “branca” refere-se à cor mais esbranquiçada que emitem quando a avistamos de forma isolada das outras. 

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Durante esse processo todo, elas podem acabar consumindo outros corpos celestes que estejam próximos a elas. Esse fenômeno, conhecido como acreção, faz com que a estrela acumule partes de outros corpos celestes em sua superfície, e foi exatamente isso o que os pesquisadores descobriram. 

Cicatriz metálica

A pesquisa, publicada no The Astrophysical Journal Letters, mostrou que a estrela canibal batizada de WD 0816-310, localizada a aproximadamente 63 anos-luz da Terra, possui partes metálicas oriundas de um planeta ou asteroide em sua superfície.

“É bem conhecido que algumas anãs brancas — brasas que esfriam lentamente de estrelas como o nosso Sol — estão canibalizando pedaços de seus sistemas planetários. Agora descobrimos que o campo magnético da estrela desempenha um papel fundamental nesse processo, resultando em uma cicatriz na superfície da anã branca”, disse em comunicado a imprensa Stefano Bagnulo, astrônomo do Observatório e Planetário de Armagh, na Irlanda do Norte, e autor principal do estudo.

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Para descobrir como a estrela obteve sua cicatriz metálica, os pesquisadores utilizaram uma ferramenta do VLT chamada de FORS2: “o Observatório Europeu do Sul tem a combinação única de capacidades necessárias para observar objetos fracos como anãs brancas e medir sensivelmente campos magnéticos estelares”, diz Bagnulo. 

O material metálico foi atraído para a estrela graças a força de seu campo gravitacional, de forma similar ao que acontece aqui na Terra durante a formação das auroras boreais. 

O metal presente na estrela não estava distribuído de forma uniforme em sua superfície, o que levou os pesquisadores a acreditar que isso se deve ao campo magnético da anã branca. Dessa forma, a cicatriz provavelmente está localizada em um dos pólos da estrela. 

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De acordo com  Jay Farihi, professor do University College London, Reino Unido, e coautor do estudo, a anã branca canibal consumiu um planeta pequeno, de tamanho próximo ao asteroide Vesta.

“Demonstramos que esses metais originam-se de um fragmento planetário tão grande quanto ou possivelmente maior que Vesta, que tem cerca de 500 quilômetros de diâmetro e é o segundo maior asteroide do Sistema Solar.”

Para os pesquisadores, esse exemplo mostra como é intensa a atividade de corpos celestes no espaço, visto que eles podem continuar ativos mesmo após o seu fim.

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