A tipografia pode aumentar seu ritmo de leitura
E ela varia de uma pessoa para outra. Cientistas desenvolveram uma inteligência artificial que, com base no seu perfil, recomenda a fonte perfeita para você
A tipografia da Microsoft consiste em mais de 300 tipos de letras; já o Adobe Fonts oferece mais de 20 mil. Outras milhares podem ser instalados em bancos online, como o DaFont. Se o seu objetivo é escrever um TCC, por exemplo, as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) te limitam à Arial e Times New Roman. No entando, com a imensidão de fontes disponíveis, escolher uma fonte para um blog ou peça publicitária pode ser uma tarefa árdua. Além do papel estético, a fonte certa pode melhorar a legibilidade da sua mensagem e potencializar sua velocidade de leitura.
Um estudo desenvolveu um modelo de inteligência artificial para fornecer recomendações personalizadas de fontes que melhoram o acesso às informações e aprimoram as experiências de leitura individuais. O modelo aprende a associar fontes com necessidades específicas do leitor para melhorar a velocidade de leitura.
A equipe contava com engenheiros e pesquisadores de aprendizado de máquina da Adobe. Eles colaboraram com cientistas que estudam a visão, tipógrafos, cientistas de dados e pesquisadores de legibilidade para estudar o modelo de aprendizado de máquina da Adobe conhecido como FontMART.
A empresa, junto do Google e da Universidade Central da Flórida, compõe o The Readability Consortium (O Consórcio de Legibilidade, em tradução livre), um consórcio que busca usar tipografia individualizada para aprimorar a legibilidade digital para leitores de todas as idades e habilidades.
“O futuro da legibilidade é um dispositivo que observa os humanos lerem e usa seu desempenho para adaptar o formato para que eles leiam da melhor maneira possível”, conta Ben Sawyer, diretor do Readability Consortium e do Virtual Readability Lab (Laboratório Virtual de Legibilidade) da UCF. “Estamos ansiosos pelo dia em que você poderá pegar um dispositivo, ler e receber informações de uma maneira que atenda exclusivamente às suas necessidades.”
Como o modelo funciona
O estudo usou uma modificação de um teste de preferência de fonte disponível no site do Laboratório Virtual de Legibilidade da universidade para as informações que alimentariam o FontMART. O usuário passa por dois testes: no primeiro, deve decidir entre duas fontes; no segundo, deve ler um trecho de texto o mais rápido possível e, em seguida, responder questões de compreensão e conforto com a leitura. Vale lembrar que o estudo foi feito baseado na língua inglesa.
Segundo os pesquisadores, a fonte preferida nem sempre conferia um melhor desempenho de leitura. Na verdade, as fontes mais escolhidas eram, em média, 71,2 palavras por minuto mais lentas do que as descobertas mais rápidas. Ou seja: nem sempre as mais bonitas são as mais práticas.
Os 252 voluntários forneceram suas informações pessoais e tiveram suas preferências e velocidades de leitura computados. Foram escolhidas oito fontes para o estudo: fontes serifadas (Georgia, Merriweather, Times New Roman e Source Serif Pro) e sem serifa (Arial, Open Sans, Poppins e Roboto). Serifas são os pequenos traços presentes no final das letras. Fontes serifadas também são irregulares em grossura, enquanto as sem serifa são uniformes.
O efeito de uma fonte varia de acordo com os leitores. O FontMART pode prever as fontes que funcionam bem para leitores específicos, entendendo a relação entre as características da fonte e as características do leitor – como familiaridade com a fonte, velocidade de leitura autorrelatada e idade. Entre as características consideradas, a idade é a que desempenha o maior papel ao determinar a fonte recomendada.
Através do estudo, os pesquisadores descobriram que traços mais grossos beneficiam a experiência de leitura de adultos mais velhos (acima de 35 anos), pois são mais fáceis de ler para aqueles com visão mais fraca e variável. A mudança teve efeito mínimo em quem tinha menos de 30 anos.
Da mesma forma, fontes mais achatadas prejudicavam a velocidade de leitura dos participantes acima dos 35. Por outro lado, aqueles que afirmaram não ler com frequência e serem leitores vagarosos se beneficiaram das fontes mais baixas.
Os pesquisadores defendem que, em um mundo digital cada vez mais lotado de informações, fontes personalizadas, que atendam às necessidades específicas de seus usuários, podem ajudar a lidar com essa sobrecarga contemporânea.