Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Queda das criptomoedas pode ser boa para o meio ambiente

Estudo revela que, quando o bitcoin cai abaixo de US$ 25 mil, a mineração dele também diminui - e isso reduz diretamente as emissões de CO2

Por Tiago Cordeiro e Bruno Garattoni
Atualizado em 8 jul 2022, 17h02 - Publicado em 7 jul 2022, 16h04

Texto Tiago Cordeiro e Bruno Garattoni

De janeiro até agora, o valor do bitcoin despencou 58%. O do ethereum, quase 70%. Um bitcoin, que chegou a custar US$ 67 mil, passou a valer pouco mais de US$ 21 mil.

Até aí, está dentro da rotina: fortes oscilações na cotação das criptomoedas são comuns. Elas podem ser desastres ou oportunidades para os investidores. Já para o meio ambiente, há indícios de que a queda das criptos pode ser boa – e ajudar a reduzir as emissões de CO2.

As criptomoedas são criadas através da “mineração”: você coloca o seu computador para trabalhar, resolvendo operações matemáticas, e ao terminá-las recebe criptos como recompensa.

Só que, como elas valem dinheiro, há muito tempo a mineração deixou de ser uma atividade doméstica: hoje ela é feita em larga escala, por grandes conjuntos de servidores comprados e mantidos especificamente para essa atividade – que demanda uma quantidade imensa de eletricidade.

Em 2021, a mineração de criptomoedas consumiu estimados 180 a 200 TWh (terawatt-hora). É o equivalente ao gasto por todos os datacenters do mundo, somados – ou quase o dobro do consumo energético de países como Argentina e Holanda.

Continua após a publicidade

Ao longo do ano passado, as criptos atraíram muitos novos investidores, e seu valor disparou, estimulando a mineração. Agora, com a queda nas cotações, acontece o contrário – e o consumo de energia também diminui.

É o que mostra uma análise publicada pelo economista holandês Alex de Vries, que estuda o consumo energético envolvido nas criptomoedas. Segundo ele, sempre que o bitcoin estiver acima de US$ 25.200, o processo de mineração irá consumir pelo menos 180 TWh por ano.

Mas, quando ele cai abaixo desse valor, essa atividade se torna menos lucrativa – porque o valor da criptomoeda se torna menor, mas o custo da eletricidade usada para minerá-la continua o mesmo. Dessa forma, a quantidade de pessoas e empresas minerando diminui.

Uma simples queda do valor do bitcoin para a casa dos US$ 24 mil já reduziria o consumo global em 10 TWh. Quanto mais a cotação desce, mais energia é economizada.

Continua após a publicidade

Se o bitcoin cair para US$ 8 mil, calcula De Vries, esse valor sustentaria muito menos mineração – e ela passaria a consumir no máximo 60 TWh. É uma diferença bem grande. E essa projeção considera apenas o bitcoin, sem levar em conta as demais criptos.

As criptomoedas têm um impacto relevante nas emissões de CO2 porque a eletricidade usada para minerá-las nem sempre vem de fontes limpas – na maior parte das vezes, é justamente o contrário.

Entre os países onde há mais mineração de criptos estão o Cazaquistão, que gera sua energia basicamente a partir da queima de carvão, e os Estados Unidos, que utiliza principalmente gás e carvão.

A corrida pelas criptos, em 2021, piorou esse cenário: naquele ano, apenas 25% da mineração foi alimentada com energia limpa e renovável (contra 42% em 2020).

Continua após a publicidade

A mineração ficou mais “suja” também devido a outro fator. Em 2021, a China proibiu a mineração de criptos. O país, que abrigava mais de 50% de toda a mineração do mundo, usava energia de fonte hidrelétrica para fazer isso em boa parte do ano.

Com a proibição, a mineração passou a ser realizada de forma clandestina, com eletricidade de origem poluente – e também migrou para outros países, onde a matriz energética é mais suja.

Estima-se que a mineração de bitcoin gere 65 milhões de toneladas de CO2 por ano, o equivalente a todas as emissões geradas pela Grécia.

Segundo um estudo da Universidade do Havaí, publicado na revista Nature, o bitcoin, sozinho, teria o poder de gerar emissões suficientes para a temperatura do planeta subir acima de 2oC em relação a níveis pré-industriais, levando o planeta a descumprir a meta estabelecida pelo Acordo de Paris, em 2015.

Continua após a publicidade

Mas isso não significa que as criptomoedas devam ser extintas. Há formas de fazer a mineração consumindo menos eletricidade – e/ou poluindo menos.

Técnicas alternativas

Durante a noite, a demanda por eletricidade é menor, pois as pessoas estão dormindo. As turbinas de energia eólica continuam girando, pois continua ventando – mas a eletricidade que elas geram nesse período muitas vezes é descartada, já que não há como armazená-la.

Esse problema também pode afetar a energia solar. O Sol brilha mais forte ao meio dia, mas esse não é o horário de maior consumo (é ao anoitecer, quando as pessoas chegam em casa).

Continua após a publicidade

Já existem empresas tentando desenvolver soluções, como grandes baterias, para armazenar essa energia limpa  que sobra, pois é gerada em partes do dia em que a demanda é menor. Outras possíveis saídas: só permitir a mineração fora dos horários “de pico”, ou apenas com eletricidade comprovadamente gerada por fontes limpas.

Também é possível mexer nas regras das próprias criptomoedas. A mineração delas segue a regra de proof of work, ou prova de trabalho: os computadores que executam e completam determinadas operações matemáticas ganham criptos por esse trabalho.

Mas é possível adotar o princípio de proof of stake, ou prova de participação. Grosso modo, é o seguinte: nesse sistema, usuários que detêm uma certa quantidade mínima de cripto são escolhidos para executar as operações matemáticas que geram moedas e validam as transações de outras pessoas.

Não existe a mineração irrestrita, como nos moldes atuais. Por isso o consumo de eletricidade se torna até 99% menor. A criptomoeda ethereum poderá migrar para esse sistema ainda este ano.

Além disso, seria possível reduzir as emissões envolvidas nas criptos limpando a matriz energética como um todo. Se a geração de eletricidade vier de fontes renováveis, a mineração naturalmente se tornará muito menos poluente.

E os países desenvolvidos estão investindo pesado em descarbonização. Nos EUA, por exemplo, estados que avançaram na geração de energia de fonte eólica, em especial o Texas, têm atraído um grande número de empresas de mineração de criptomoedas.

Como disse Steve Barbour, fundador da Upstream Data, empresa canadense especializada na produção de equipamentos para mineração, em entrevista à rede CNBC: “este é um mercado portátil, do qual você pode participar se aproximando da fonte mais adequada de eletricidade”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.