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Os vikings eram realmente tão violentos quanto se imagina?

O grupo escandinavo cria uma associação automática a banhos de sangue e violência. Será que é isso mesmo? Entenda.

Por Manuela Mourão
5 nov 2024, 14h00

Os grandes sucessos de streaming gostam de pintar os Vikings como carniceiros, grandes ladrões e guerreiros extremamente violentos, que deixavam apenas destruição por onde passassem. Será que é isso mesmo?

Parte desse estereótipo é responsabilidade das grandes telas de Hollywood. Mas não significa que esses escandinavos não fizeram por merecer um pouquinho da fama. 

O termo “Viking” é frequentemente descrito como significando “pirata” ou “invasor”, mas suas origens são mais complexas. A palavra moderna em inglês deriva do nórdico antigo, mas foi popularizada no século 19. 

Em nórdico antigo, “víkingr” se refere a uma pessoa envolvida em expedições, enquanto “víking” descreve a atividade em si. Ambos os termos eram neutros e podiam se aplicar a vários grupos, não apenas a invasores. Seus significados e usos específicos durante a Era Viking (cerca de 750-1100 d.C.) ainda são debatidos entre os estudiosos, com evidências de runas e poesias sugerindo que “víking” incluía uma variedade de atividades marítimas além do saque. Com o tempo, no entanto, uma conotação pejorativa começou a surgir.

Os ataques sanguinários com certeza ajudaram nisso. 

Fontes históricas registram diversos ataques a mosteiros e questões de pirataria, refletidos em códigos legais e documentos. Esses registros mostram um grande número de ataques, pintando uma imagem de um povo aterrorizante e sedento de sangue. 

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As crônicas mencionam cidades queimadas e pessoas capturadas ou mortas. Um exemplo vívido é a Crônica de Nantes, que descreve como os nórdicos “capturaram a cidade de Nantes e destruíram a santa catedral de Deus”, decapitando o Bispo Gunhard enquanto ele rezava e massacrando os fiéis. 

Os vikings, sendo inicialmente pagãos, têm como vítimas grande parte da Europa, majoritariamente cristã, e por isso eram frequentemente descritos como particularmente abomináveis e ímpios em seus ataques.

“Estes são cristãos escrevendo sobre o ataque desses pagãos”, disse Caitlin Ellis, professora de história medieval na Universidade de Oslo, à Live Science. “Às vezes eles dizem que é um castigo [o ataque] de Deus o fato de seu próprio povo ter pecado ou não ter sido bom o suficiente.”

Assim, fontes não escandinavas retratam os vikings como invasores especialmente cruéis.

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Na década de 1960, historiadores começaram a questionar a confiabilidade das fontes da Era Viking. Em vez de aceitar as crônicas como “verdades”, passaram a considerar o viés e o trauma dos autores dessas fontes, o que poderia complicar as interpretações das atividades vikings. Peter Sawyer, em seu livro A Era dos Vikings, 1962, escreveu: 

“Uma vez reconhecidos os preconceitos e exageros das fontes primárias, os saques podem ser vistos não como um cataclismo sem precedentes e inexplicável, mas como uma extensão das atividades normais da Idade das Trevas.”

Daniel Melleno, professor de história medieval e pré-moderna na Universidade de Denver, conta que a época dos “homens do norte” coincidiu com a Idade Média, período em que escravidão, saques, guerras e matança eram comuns – os vikings  não se excluem dessa realidade. 

Por isso, a pergunta não deveria ser “eles eram violentos?” e sim, “eles estavam fazendo alguma coisa fora do padrão?”, explica o professor para a Live Science

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Os vikings eram em grande parte pré-letrados e deixaram poucos registros escritos de suas atividades, com a maioria das evidências vindo de suas vítimas ou de sagas escritas por seus descendentes séculos depois. 

Embora também fossem comerciantes, agricultores e pescadores, suas vítimas se concentraram mais na violência que sofreram, resultando em relatos provavelmente exagerados sobre a brutalidade viking. Discrepâncias em algumas fontes também levantam dúvidas sobre a legitimidade das histórias. 

Além disso, outros grupos também realizavam saques e conquistas na Europa medieval, como os árabes na Península Ibérica e os magiares na Hungria. O rei dos Francos, Charlemagne, também deu bastante dor de cabeça na época com seus massacres, guerras e tomada de reféns 

Melleno observa que a grande diferença é que, ao contrário de estados organizados, os vikings eram vistos como um grupo de piratas, o que os tornava mais imprevisíveis e considerados mais bárbaros por suas vítimas.

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