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Por que cientistas consideram que estamos na ‘era de ouro das maçãs’?

Os desenvolvimentos científicos não tem folga - principalmente no mundo das maçãs. É graças a ciência que hoje você aproveita essa fruta crocante. Entenda.

Por Manuela Mourão
30 nov 2024, 15h00

Nada melhor do que comer uma maçã geladinha e crocante em dias de calor, isso é consenso. O que talvez você não saiba é que, algumas décadas atrás, essa sensação seria impossível. Isso porque as maçãs não costumavam ter essa crocância toda. Dá até para criar uma marca temporal: a.C. e d.C., antes e depois do Croc. 

No Brasil, pode-se dizer que o antes do Croc termina com a maçã Fuji, um orbe doce, imenso e azedinho que começou a ser comercializado no Japão em 1962 e chegou ao a nosso país nos anos 1970 (a Gala também é relativamente recente: seu primeiro plantio comercial por aqui rolou em 1975).

Nos EUA, é comum dizer que o antes do Croc termina por volta de 1980, quando as revolucionárias e deliciosas Honeycrisps chegaram às gôndolas. O único problema é que elas são caríssimas, o que permite que as Fujis e Galas coexistam com elas nos supermercados.

Hoje, a Honeycrisp é uma das maçãs mais populares nos EUA. Aqui em Pindorama, a Fuji também vive sua era de celebridade: a região de São Joaquim, em Santa Catarina, é a maior produtora nacional dessa variedade, com um output anual de mais 218 mil toneladas (a produção total da fruta no país é de cerca de 1 milhão de toneladas, de acordo com o IBGE).

De onde surgiram essas maçãs?

As maçãs que conhecemos hoje não conseguem se autofertilizar, como ocorre com outras plantas que fabricam clones de si mesmas. Por isso os criadores precisam cruzar as árvores em laboratório para selecionar as características que desejam reproduzir.

Em alguns lugares o cultivo acontece por meio da transferência cuidadosa do pólen entre as flores. Existe também a possibilidade do uso de redes e abelhas na fertilização. Após a colheita das maçãs, as sementes são resfriadas e germinadas, podendo ser testadas quanto a certos genes na fase de plântulas. 

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O genoma da maçã é complexo e altamente variável, tornando difícil prever quais alelos dos pais chegarão às plântulas, mesmo com fertilização controlada.

No entanto, existem alguns marcadores genéticos que os criadores podem identificar nas plantinhas, que indicam propriedades como acidez, cor da pele, resistência a doenças e a característica “crocante” da Honeycrisp e suas descendentes. As que apresentam as combinações desejadas de traços são selecionadas para o processo de enxertia.

A enxertia é a junção íntima entre duas partes de diferentes plantas, para que continuem seu crescimento como um ser único. Isso é essencial para “fixar a genética”.

Ramos que produzem a fruta desejada são enxertados em uma árvore “porta-enxerto”, que fornece estrutura e nutrição, mas não determina as qualidades das maçãs – clones das ramificações enxertadas. A fertilização também não influencia o resultado da maçã; apenas os genes nas sementes são afetados pelo pólen trazido pelas abelhas.

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Revolução dos enxertos

Uma grande inovação na criação de maçãs nas últimas décadas foi o uso generalizado de porta-enxertos anões. Essas pequenas árvores crescem rapidamente e em um tamanho menor que as tradicionais, permitindo que mais energia seja direcionada para o crescimento das maçãs em vez de para o desenvolvimento de árvores grandes. 

Desse jeito, os ramos enxertados em porta-enxertos anões produzem maçãs dois a três anos mais cedo.

Apesar de muitos híbridos serem testados, apenas uma pequena porcentagem é considerada boa o suficiente para cultivo. Muitas vezes, novas variedades surgem de combinações genéticas inesperadas, como foi o caso da Honeycrisp.

Os criadores de maçãs testam novas variedades por cinco a 15 anos após a primeira degustação, buscando resistência a doenças, resiliência ao calor, resistência ao frio e capacidade de produção anual. David Bedford, um pesquisador de maçãs na Universidade de Minnesota, estima que apenas uma em cada 10.000 plântulas é boa o suficiente para o lançamento comercial. Para a revista Scientific American o pesquisador diz que “todas elas têm traços negativos; não existe maçã perfeita.”

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O futuro é crocante

Um dos maiores desafios na criação de novas variedades é que as existentes são muito boas, elevando o padrão para qualquer nova maçã que se deseje desenvolver. Bedford observa que novas variedades precisam ser melhores do que as atuais para justificar seu cultivo e comercialização. “Nós somos uma das nossas maiores concorrências”, diz a revista americana.

Algumas pesquisas desenvolvidas agora no mundo das vermelhinhas buscam identificar genes associados a traços favoráveis e desfavoráveis, desenvolvendo maçãs adequadas para serem vendidas em situações específicas. Uma delas, por exemplo, seria a venda da fruta em fatias. 

Outro objetivo é aumentar o tempo de armazenamento das maçãs. Novas variedades vêm sendo criadas para permanecer firmes por mais tempo. Os laboratórios experimentam técnicas para controlar temperatura, níveis de oxigênio e dióxido de carbono, e remover gás etileno que acelera o amadurecimento. Os cientistas esperam fazer maçãs que durem um ano em armazenamento, ampliando o mercado.

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